Os celulares apitavam com a chegada de torpedos, e-mails novos pipocavam nas caixas de entrada do Outlook de todo mundo. A cada mensagem novo, a descrição de uma tragédia. “Bandidos entraram atirando em todo mundo na estação de metrô.” “Agências bancárias serão os alvos.” “Estão atacando as pessoas presas no trânsito.” “Um conhecido de um amigo conversou com um policial que disse que o pior ainda está por vir.” Muita gente falando, gritando, ao mesmo tempo. Mesmo em um mundo em que não havia redes sociais, foi fácil essa rede de relatos virtuais se transformar em pânico generalizado. E, assim, 15 de maio de 2006 entrou para a história como o dia em que o PCC esvaziou a Grande São Paulo.

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O Primeiro Comando da Capital, organização formada nos presídios paulistas, já promovia ataques a delegacias e policiais desde o dia 12, uma sexta. O fim de semana teve mais atentados, e dezenas de policiais foram mortos. Mas o dia a dia da cidade não se alterava tanto. Até chegar a segunda, o dia 15. Todos saíram para trabalhar ou estudar, as ruas estavam cheias como em qualquer dia útil na maior metrópole brasileira. O que deu uma nova amplitude às ações do PCC, pois todos se sentiam como alvos em potencial.

Era um cenário propício para a disseminação de boatos e especulações, que motivaram boa parte da população a voltar para casa o mais rápido possível, de preferência antes de anoitecer (algo que ocorre perto das 18h nessa época do ano). Lojas fecharam as portas. Escritórios cancelaram reuniões e dispensaram seus funcionários. Escolas e faculdades cancelaram as aulas noturnas. Houve até casos de emissoras de TV cancelando programas ao vivo. A hora do rush foi antecipada para as 16h.

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Praticamente todos os relatos que surgiram pela internet se mostraram falsos. O pânico se baseou em mentiras, mas a busca desesperada das pessoas por suas casas deixaram um recado muito forte: o paulistano não confiava nas autoridades. Tudo bem, é fácil dizer que o brasileiro, por natureza, não confia nos governantes. Mas isso era algo mais profundo. Não se confiava na capacidade de as autoridades combaterem uma organização criminosa que tomava de assalto a cidade a ponto de não haver segurança nem para andar na rua. A única solução possível era se trancar em casa com sua família e esperar a onda de violência passar.

Foi um momento de descrença total, em que as pessoas interromperam suas atividades por conta de um medo generalizado. Nem as autoridades sabiam direito como reagir e orientar a população, até porque elas, sim, eram alvos dos ataques. Mas, naquele momento, o crime organizado provavelmente pensou que tinha mais controle sobre a cidade do que ela próprias. E ver isso acontecer tenha sido o aspecto mais amedrontador daquele 15 de maio de 2006.