A frota de veículos automotores em Belo Horizonte quase dobrou nos últimos dez anos. Segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito, circulavam pelas ruas da cidade 866.304 unidades em março de 2006, e número que foi de 1.714.947 no mês passado. Um crescimento que reforçou a participação dos carros na capital mineira. A proporção dos passageiros de ônibus caiu de 67% em 2013 para 63% em 2015, enquanto a do transporte individual motorizado subiu de 29% para 32% no mesmo período.

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Medidas para mudar essa trajetória estão sendo tema de debate na cidade. Enquanto a prefeitura considera incluir a redução do preço da tarifa do transporte público na revisão do Plano de Mobilidade 2010/2030, atualmente em processo e que precisa ser validada e encaixada no planejamento, especialistas defendem que a implantação do rodízio por placa será inevitável caso a administração municipal não coloque o sistema de coletivos entre suas prioridades. A prefeitura afirma que não há previsão de implantação de rodízio veicular.

Só em 2015, os passageiros do transporte público tiveram pelo menos dois motivos para migrar para outros modais: o valor da tarifa da maioria das linhas era de R$ 3,10 até outubro, quando passou para R$ 3,40, e fechou o ano em R$ 3,70. Os veículos dos trajetos alimentadores e circulares cobram R$ 2,65 e, nos que percorrem vilas e favelas, o embarque custa R$ 0,85. Também há linhas executivas com taxas que variam entre R$ 5,55 e R$ 6,90.

O Plano de Mobilidade de Belo Horizonte está em fase de revisão e a empresa pública de transporte, BHTrans, afirma que incluiu a proposta de reduzir a tarifa fora dos horários de pico com o objetivos de atrair novos usuários e fazer com que os passageiros desses períodos passem a se deslocar outros momentos do dia. “A ideia é fazer uma migração de passageiros do horário de pico para horários de menos trânsito e atrair novos usuários. Se você precisa ir ao centro de BH (você tem o dia todo para resolver), você poderia optar por ir fora do pico, afinal, a passagem é mais barata. Colocando a tarifa mais barata no fora pico também podemos atrair pessoas que hoje utilizam carro e muitas vezes moto”, informou a BHTrans por meio de sua assessoria.

O professor da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, declarou ao jornal Estado de Minas que o sistema de transporte público de Belo Horizonte passou 10 anos sem receber os investimentos necessários. Segundo ele, o transporte individual foi priorizado com a construção de viadutos e avenidas em detrimento do sistema de coletivos e do metrô. “O ideal seria contar com trens intermunicipais com linhas troncais de metrô entrando nas regiões periféricas de BH de maior densidade populacional, como Barreiro e Venda Nova. Os trens alimentariam essas estações e os terminais, por sua vez, também seriam alimentados pelo Move e por outras linhas de ônibus, formando um sistema que vem de fora para dentro, da periferia para o Hipercentro.”

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Dados da BHTrans indicam que, apesar da instalação do BRT, a velocidade média de todas as linhas de coletivo da capital mineira não subiu muito depois que o sistema começou a operar. A maioria dos veículos do transporte público ainda circula no meio dos carros em áreas problemáticas como no centro. O índice, que era de 17,62 km/h no pico da manhã em 2013, ficou em 18,11 km/h no período da tarde. Na hora do rush do fim de tarde, foi registrada a velocidade 15,24 km/h em 2013 e de 16,06 km/h no ano passado.

O sistema de BRT de Belo Horizonte, o Move, começou a operar em 2014. Segundo análise que classifica os sistemas desse tipo de acordo com o padrão de qualidade do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP), o corredor da Antônio Carlos – que liga o centro à Pampulha – teria potencial para receber a classificação mais alta (ouro) se considerassem somente o projeto, mas pontos negativos na operação fizeram com que fosse categorizado como prata.

O problema se agrava pela falta de um sistema sobre trilhos que tenha mais alcance. A linha 1 do metrô é a única em operação na cidade, sendo que nos últimos 10 anos nenhum quilômetro novo foi entregue. Para piorar, ela não atende a dois trajetos importantes, ligando o centro à Pampulha (norte) e a ao centro de Contagem e Betim (oeste). Atualmente, o sistema recebe 220 mil passageiros por dia, apenas 80 mil a mais em relação a 2006.

Seja qual for a medida a ser tomada – e Belo Horizonte pelo menos parece estar considerando várias possibilidades – passou da hora das condições de circulação na cidade melhorarem.