A fauna do trânsito está cada vez mais povoada por figuras definidas por siglas: SUV, BRT, VLT… Em breve, talvez tenhamos mais uma, o TEB. Nesta semana, durante a Intel High Tech Expo em Pequim, a China apresentou o Transit Elevated Bus, um sistema de ônibus que trafega pelo alto nas ruas, deixando embaixo de si um túnel ambulante pelo qual passariam os carros. O primeiro protótipo seria testado neste verão (no hemisfério norte, o inverno brasileiro) em Qinhuangdao, cidade 300 km a leste de Pequim.

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A concepção do TEB soa fantástica. O veículo teria o equivalente a duas faixas de trânsito de largura e trafegaria a até 60 km/h. Ele teria capacidade de transportar 1,2 mil pessoas ao mesmo tempo, equivalente a 40 ônibus comuns. Ou seja, na prática, ele substituiria um metrô, mas, por exigir obras menos invasivas, ele teria o custo de menos de 20% e uma linha ficaria pronta em apenas um ano.

O projeto não é propriamente uma novidade. Em 2010, a mesma equipe de engenheiros já havia divulgado um vídeo apresentando um sistema parecido com esse. Imaginar um veículo como esse cruzando as cidades parece coisa de filme de ficção científica, mas os chineses ainda não apresentaram algumas questões importantes para que se veja o impacto que esse sistema pode ter.

Em relação a quantidade de pessoas transportadas, é nítido um ganho grande em relação aos sistemas tradicionais. No entanto, o modelo apresentado pelos responsáveis pelo projeto ainda mostrava cenários conservadores. Por exemplo, o TEB parece adequado para trajetos com avenidas largas, planas e com curvas discretas. Muitas cidades chinesas apresentam esse cenário, mas isso limita bastante o alcance do ônibus elevado.

Como passa por túneis escavados debaixo da cidade, o metrô consegue fazer trajetos de curvas suaves. Passando pelas ruas já construídas, talvez o TEB tenha de lidar com curvas fechadas ou ladeiras acentuadas e, principalmente, ruas estreitas. Claro que é possível desenvolver o projeto para lidar com essas questões, mas essas respostas ainda não foram apresentadas.

Outra questão é a interação do TEB com os carros. Algo fundamental para o bom funcionamento do sistema, pois ele foi concebido justamente para atrapalhar menos o tráfego dos carros. No entanto, o ônibus elevado não é apenas uma massa de metal que sobrevoa os veículos no chão. É também uma parede que circula no meio da rua.

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Será preciso reeducar os motoristas de carros, de ônibus convencionais (se continuarem trafegando) e de caminhões para lidar com isso, pois o TEB tornaria muito mais perigosa qualquer conversão ou mudança de faixa. Uma distração poderia provocar um grave acidente, algo que deve ser considerado quando se fala de China, um dos lugares com trânsito mais caóticos do mundo. Com ciclistas e pedestres, qualquer problema teria consequências ainda mais sérias.

O teste marcado para Qinhuangdao pode responder a essas perguntas. Só nesse momento será possível avaliar o quão exequível é o ônibus elevado, ou se ele fica na categoria de mais uma ideia que soa genial, mas não se mostrou prática no dia a dia.