Pegar um dos micro-ônibus na Cidade do México era uma aventura para quem não fosse um usuário assíduo. Esse sistema de transporte era feito por coletivos informais, os peseros, cada um fazendo a sua rota, até março passado. Para saber qual veículo o levaria para seu destino, só conhecendo bastante as linhas ou contando com a ajuda de alguém. Tudo porque faltava uma base de informações sobre a rede, seus trajetos e até a quantidade de usuários atendidos.

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O sistema foi desvendado pelo Mapatón CDMX, uma iniciativa de mapeamento colaborativo que permitiu que os passageiros compartilhassem dados de GPS para formar uma base de rotas mapeadas enquanto e deslocavam pela cidade. Para motivar o público, tablets e prêmios em dinheiro foram oferecidos aos usuários que mapeassem mais rotas. O resultado disso foi um mapa detalhado e até o dado que os micro-ônibus levam 14 milhões de pessoas por dia.

Esse trabalho é particularmente difícil pela falta de padronização nos veículos e nos pontos de parada. Alguns levam nomeações genéricas com pontos de referência como hospitais ou Pemex, empresa petrolífera do México e dona de milhares de postos de gasolina do país. Ou seja, moradores do bairro são capazes de identificar essas linhas pelos seus nomes, mas essas informações não servem para formar uma base de dados municipal.

Para contornar esse problema, os usuários foram orientados a tirar fotos dessas placas que identificam cada rota para tentar fazer com que computadores processem essas informações. Essa etapa ainda está sendo desenvolvida pelos programadores que colaboram com o projeto.

O mapeamento teve início no mês passado, com uma equipe de 35 colaboradores de 12 organizações diferentes. Eles aceitaram o desafio de organizar em duas semanas as informações sobre uma rede de transporte que começou a funcionar nos anos 1980 como sistema oficial de coletivos comissionados pelo governo, mas gerenciados por privados. Desde então o sistema ganhou volume na informalidade, situação atual de centenas de linhas. O seu crescimento se deu com a mesma facilidade que a multiplicação de perueiros onde esse meio de transporte não é regulamentado.

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Apesar de sua magnitude, sua eficiência é difícil de comprovar justamente porque reunir dados sobre uma rede tão numerosa e carente de padrões tornou-se um problema. Tomar decisões sobre deslocamentos sobre a cidade era algo extremamente dependente das relações de cada um com o território e com os moradores do Distrito Federal. Agora os dados estão abertos ao público de uma forma organizada e a expectativa é que essa base gere discussões sobre como tornar esse sistema mais confiável, legível e estimular a criação de uma política de divulgação de informações sobre o transporte coletivo que facilite a vida dos passageiros.

Para atingir esses objetivos, o grupo promoveu uma hackatona para buscar soluções para o transporte público local. O projeto que ficou em primeiro lugar foi de um sistema com base em SMS para o qual o usuário envia a origem e o destino e ele responde com sugestões de rotas que podem ser feitas de transporte público, incluindo os peseros. A iniciativa torna acessíveis as informações mesmo para quem não tem um smartphone, o que é importante para a democratização do uso eficiente da rede de coletivos. O sistema está em processo de ser adotado como serviço oficial pela Agência de Gerenciamento Urbano da cidade.