Toda terceira sexta-feira do mês, dois monges deixam o templo Busshinji, no bairro da Liberdade, em direção ao centro de São Paulo. A meditação mensal no heliponto desativado do Copan começa cedo, às 7 da manhã, e não é aberta ao público. Ainda assim, já contou com a participação de leigos e outros monges, todos convidados.

A escolha do local não é aleatória. Do alto dos 32 andares do edifício, o monge Handa acredita que é possível acalentar os ânimos mais variados da maior cidade brasileira. Paulista de Salto, ele foi acolhido no Copan há quase dez anos, quando propôs ao síndico do prédio, Affonso de Oliveira que a laje de cobertura se tornasse o único ponto fora do templo a receber monges para meditação regularmente.

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Ele nos deu um depoimento exclusivo sobre esses encontros e a relação com o edifício que completa 50 anos nesta quarta.

“Escolhemos o Copan porque estava no centro velho e era uma referência de São Paulo. É um edifício alto e sabíamos que lá em cima tinha o heliponto. Isso era muito importante para nós, porque queríamos um lugar alto. Poderíamos ter escolhido a avenida Paulista, por exemplo, mas no centro seria muito interessante porque é o próprio coração da cidade,  onde todas as pessoas estão o tempo todo cruzando, todas as emoções estão presentes. É uma parte da cidade um pouco decadente também. Aquele prédio, no meio dessa decadência toda, apresentava uma proposta de modernidade.

Nós meditamos lá faz aproximadamente dez anos, sempre no mesmo local. O único lugar que meditamos em São Paulo é lá, acabamos ficando e virou uma atividade cotidiana. ‘Nós’, no caso, somos todos os monges aqui do templo. Já passaram várias pessoas por lá, quase sempre monges e alguns leigos também. Hoje tem menos gente, mas já teve entre 5 e 6 pessoas, agora sou eu e mais um. Três dos monges daqui foram para o Japão, então atualmente reunimos no máximo três pessoas.

A relação sempre foi de muita cordialidade, por isso estamos lá ainda. Temos uma ligação muito grande com o síndico do prédio, nós levamos a proposta para ele e ele acatou de imediato. Também temos mantido essa frequência de forma determinada: meditamos uma vez por mês, menos dezembro, por causa do período de festas. Depois do dia 8, que é a data da iluminação de Buda, começa o período de férias. Fora isso, pode chover, pode fazer frio, isso não impede que a gente vá.

Nós estávamos lá em uma manhã e não tínhamos percebido que estava chovendo. Aí, de repente, uma pessoa do prédio que estava nos acompanhando avisou: ‘Olha, está chovendo, melhor sair daí’. Foi então que nos demos conta da chuva. Sempre uma pessoa da portaria, ou um bombeiro, alguém da segurança, acaba subindo porque é preciso fechar e abrir as portas e eles, que têm a chave, ficam esperando a gente terminar a meditação.

Nunca penso em vantagem e desvantagem de fazer lá, é o lugar onde nós começamos e fomos acolhidos, virou uma certa tradição. O que nós fazemos naquele momento, por cima do Copan, é abarcar a cidade inteirinha, acalentamos a cidade toda, e percebemos as dificuldades e as alegrias da cidade. Por exemplo, percebemos o sofrimento dos imigrantes, das pessoas que vêm de outros estados e outros países. Com certeza isso passa nas imediações e também as pessoas que acabaram vindo pra cá, ficaram na cidade. E essa emoção que é estar presente, de estar vivo na cidade de São Paulo. Talvez seja essa a nossa maior contemplação de estar fazendo lá, é algo significativo para nós.

Já levamos alguns leigos, mas se nós abrirmos totalmente, não saberemos quem vai lá. Isso pode causar um problema para o prédio. Nós somos responsáveis pelas pessoas que levamos, há um laço de confiança entre nós e o síndico do prédio. Não podemos levar pessoas que não conhecemos. Não diria que é fechado ou aberto, mas reservado.

O Copan faz parte de nossas vidas como meditantes, é uma atividade como qualquer outra, como tomar água, ir ao banheiro, tomar café. Isso já virou uma rotina para nós, não é algo extraordinário que estamos fazendo simplesmente porque o edifício é bonito. Nós somos parte daquilo.

Nunca aconteceu de ir meditar em outro edifício, também acho que a essa altura nós não faríamos mais isso. Mesmo se um dia nós pararmos de meditar no Copan, dificilmente iríamos a outro lugar.

O sentimento, no caso do templo, é de um lugar mais fechado, uma coisa mais interiorizada. No caso do Copan também é interiorizada, mas tem algo a ver com a própria atmosfera de São Paulo, essa grande bolha. Ali nós percebemos a cidade como uma grande bolha em que as pessoas estão presentes e nós estamos compartilhando sentimentos com toda São Paulo. Isso dá para perceber, porque de lá nós enxergamos.”