O que é? O Cidade para Pessoas lançou um guia para ajudar quem quer fazer algo pela sua cidade, mas não sabe por onde começar. O Manual de Crowdfunding Afetivo para Cidades aborda desde questões básicas como definir os objetivos e a narrativa do seu projeto até dicas práticas para oferecer recompensas que sejam condizentes com a campanha e tenham apelo para os apoiadores.

Como juntar recursos e pessoas

O Cidade para Pessoas começou com uma pesquisa de campo que viajou por 12 países em busca de maneiras de humanizar os grandes centros urbanos. A viagem foi financiada com recursos levantados no Catarse e registrada em emails, pôsteres  e livros, que foram enviados àqueles que colaboraram para tornar o projeto viável. Depois disso surgiu o Passanela, uma ideia inspirada nas experiências colhidas durante as viagens exploratórias para fazer das passarelas lugares mais atrativos para pedestres. Para compartilhar essas experiências, o grupo abrigar uma oficina para ajudar 15 projetos a encaminharem suas propostas para melhorar a cidade e também lançaram um Manual de Crowdfunding Afetivo para Cidades, disponível para download aqui.

O manual destaca que é importante que as campanhas para promover intervenções no espaço urbano tenham um objetivo claro. Na Oficina de Crowdfunding de Rua, realizada pelo Cidades para Pessoas em parceria com o Cocidade, os participantes passaram 3 dos 5 dias de evento definindo o que realmente eles gostariam e poderiam fazer.

Uma campanha é algo complexo, não pode ficar muito aberta. Nessa última oficina enfatizamos a narrativa porque é importante afunilar a ideia até a sua essência.

Raffaela Pastore, do Cidades para Pessoas

Como os interessados em realizar projetos em suas cidades continuaram a procurar o Cidades para Pessoas para tirar dúvidas sobre como viabilizar suas ideias, a iniciativa do manual nasceu para facilitar essa etapa de planejamento da campanha. As dicas vão desde não deixar o envio dos brindes de fora do orçamento proposto até a etapa de divulgação, com destaque para os vídeos que explicam a proposta de forma simples e clara.

Rafaella destaca que brindes podem demandar um esforço que foge do objetivo principal da campanha, e há casos nos quais o custo das recompensas chega a 80% do valor arrecadado. Encontrar algo que possa ser incluído no seu propósito principal e sirva de retribuição aos apoiadores é uma alternativa indicada pela publicitária e produtora. Ela considera que a recompensa tem um apelo, mas que a maioria das pessoas são atraídas pela causa.

Em projetos que buscam o apoio em plataformas de financiamento coletivo como o Catarse e o Vakinha, a transparência um fator importante e o destino do dinheiro arrecadado, assim como os prazos de entrega, precisam ser definidos quando a intervenção ainda é apenas uma ideia. Enquanto a primeira, que envolve a oferta de uma recompensa aos apoiadores, é recomendada para projetos como a reforma ou instalação de mobiliário urbano, a Vakinha, que funciona em um sistema de doações sem envolvimento de gratificações, é sugerida para financiar reformas de calçada. “No caso das calçadas é algo que a pessoa pode fazer sozinha sem pedir autorização para a subprefeitura, o mobiliário precisa de mais de uma pessoa para ajudar a executar a proposta e precisa de permissão”, conta Raffaela.

Participantes da Oficina de Crowdfunding de Rua discutem como financiar seus projetos (Divulgação)

Participantes da Oficina de Crowdfunding de Rua discutem como financiar seus projetos (Divulgação)

Uma falha comum entre os projetos de financiamento coletivo é estabelecer um prazo apertado demais para entregar o que propuseram. No caso do Passanela, as recompensas – fitas personalizadas com desejos do apoiador para a cidade, adesivos, pôsteres, lambe-lambes, ingressos para o Masp e assessoria de ativação para solução de problemas urbanos – tiveram um atraso de três meses na entrega das recompensas porque o grupo optou por entregar um trabalho detalhado e precisou de mais tempo para finalizar a produção. Os apoiadores foram pacientes e não reclamaram da demora.

Mesmo depois da inauguração, o trabalho com o Passanela ainda não acabou: as idealizadoras vão regularmente até o local para fazer a manutenção das chitas, que ficam sujas e precisam ser trocadas. A manutenção também é uma etapa necessária para projetos que desejam melhorar a cidade e precisa ser planejada e orçada. Afinal, muitas dessas intervenções são feitas ao ar livre e precisam resistir à chuva, sol, vento e poluição.

Apenas um entre os quinze projetos que participaram da oficina terá sua campanha lançada ainda este ano. Os outros ainda estão definindo o que efetivamente pretendem fazer pelas suas cidades. O Cidade para Pessoas tem planos de realizar pelo menos uma oficina anual voltada para viabilizar outros projetos de intervenção urbana.