Saint-Denis é conhecida por abrigar a catedral que marcou o início da arquitetura gótica e o estádio em que são realizadas as principais partidas de futebol na França, inclusive a final da Copa de 1998 em que os franceses derrotaram o Brasil. Mas, para quem vive nessa cidade na região metropolitana de Paris, Saint-Denis tem outro significado. É uma cidade em que milhares de imigrantes ou filhos de imigrantes africanos e árabes se instalam em busca de uma oportunidade na capital francesa.

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A principal trilha sonora da vida dessas pessoas não é Édith Piaf ou Charles Aznavour, nem o Daft Punk ou David Guetta. Em Saint-Denis, como em outras cidades da Grande Paris, imigrantes e filhos de imigrantes se inspiraram nos afro-americanos e desenvolveram uma forte cena de hip hop, com músicas que falam da vida na periferia parisiense, o preconceito, a violência, as condições sociais e a relação conflituosa com as autoridades. Um dos ícones desse movimento é MC Solaar, que estourou na década de 1990 e ganhou tanto destaque que chegou a gravar uma música bilíngue com o rapper Guru para os mercados americano e inglês.

Em uma as suas músicas mais famosas, “Lève-toi et rap” (“Levante-se e cante um rap”), MC Solaar (nome artístico de Claude M’Barali) fala de sua trajetória. Apesar de algumas passagens bem específicas, como o tempo em que viveu no Cairo durante a adolescência, a letra diz muito sobre a vida de afro-franceses na periferia de Paris. O rapper conta que nasceu no Senegal de pais chadianos, morou em um abrigo em Saint-Denis, mudou-se com a família para Évry (outra cidade nos subúrbios de Paris), jogava futebol enquanto a mãe trabalhava como faxineira em hospitais (e voltava tarde para casa), envolveu-se em manifestações sociais e tinha de encarar o medo de cruzar com skinheads pelas ruas. Histórias comuns entre os milhões que vivem nos arredores de Paris, e que usam o ritmo importado dos afro-americanos para se manifestar.

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