O quê? Leandro Beguoci conta como duas iniciativas estão tentando mapear as árvores de Nova York e porque isso é fundamental em São Paulo – tanto para deixar a cidade mais agradável quanto para evitar acidentes na época de chuvas.

A floresta esquecida 

Todo dia, em São Paulo, passo pela avenida Nove de Julho. Ela vai da zona oeste ao centro, passa embaixo da avenida Paulista, beira o Bexiga, até se aconchegar ao Vale do Anhangabaú. Por um breve trecho, entre a avenida Faria Lima e a avenida São Gabriel, há um pedacinho de Mata Atlântica – a enorme floresta tropical que costumava ficar aqui na cidade e que a gente, basicamente, colocou no chão. Pedacinho é exagero. São umas árvores gigantes que cobrem a avenida Nove de Julho e dão uma aparência “Bem Vindo à Floresta!” ao conúbio entre a cidade e resto de selva em que trabalhamos.

É bonito – até as chuvas de verão. Em janeiro e fevereiro, dá frio na espinha só de olhar. Com tanta história de gente morta por queda de árvore na cidade, nos primeiros meses do ano, vem aquela sensação gelada de que você pode ser o próximo (drama? Que drama?). Olha só essas manchetes do começo do ano:

  1. SP: homem morre eletrocutado após queda de árvore em fiação elétrica no centro
  2. Passageiro viu árvore caindo, diz taxista sobre morte em Higienópolis
  3. DNIT é condenado por queda de árvore que causou morte de motorista no RS

Eu sei que é raro ser morto por queda de árvore. Mas a gente nunca sabe, né? Então, do alto do meu pânico preventivo, comecei a vasculhar esse mundão. Há alguma iniciativa para mapear a saúde das árvores ANTES das chuvas? Sim, tem.

Tirei essa foto perto da minha casa paulistana, na Vila Madalena (foto: Leandro Beguoci)

Tirei essa foto perto da minha casa paulistana, na Vila Madalena (foto: Leandro Beguoci)

Descobri algumas coisas interessantes. A primeira é que a Prefeitura de São Paulo prometeu, no começo desse ano, mapear a saúde de todas as árvores da cidade. Ainda não há dados do projeto. Para se ter uma ideia, a prefeitura só descobriu recentemente quantas praças há na capital paulista. Sem dados não há prevenção (e isso vale de árvores a segurança pública).

E a gente já sabe: mapear todas essas árvores vai dar muito, muito trabalho.  Aí veio a segunda descoberta: tem alguma forma de acelerar esse processo? Tem.

Árvores de Nova York

Uma organização chamada TreeKIT está organizando as pessoas em Nova York para medir árvores e colocá-las num mapa. O objetivo é fazer com que as pessoas se importem com as árvores e as ajudem a sobreviver. Entre 2010 e 2011, eles conseguiram mapear bairros inteiros da cidade.

Para a TreeKIT, será impossível manter a infraestrutura de uma cidade, incluindo a infraestrutura verde, de árvores e parques, sem ajuda das pessoas. Por isso, eles desenvolveram uma série de ferramentas para ajudar os cidadãos a identificar árvores, mapeá-las e reportá-las para um banco de dados.

Outro projeto, no GitHub (uma plataforma de programadores excelente), também tenta mapear as árvores da cidade, incluindo o diâmetro delas. É o Canopy. Ele dá um passo além ao TreeKIT e mostra o tamanho delas.

Nenhum deles se propõe a identificar a saúde das árvores, um trabalho muito mais complicado. Mas os dois projetos já ajudam a saber onde estão as árvores, a concentração delas, o tamanho. Para o futuro próximo, seria ótimo criar um kit de ferramentas fácil de usar, simples, que ajudasse as pessoas a extrair dados básicos de saúde das árvores que estão perto da casa delas.

Os desafios 

Porém, para ter a colaboração das pessoas num projeto de mapeamento das árvores, há alguns desafios a percorrer:

  1. Kit barato e fácil de usar
  2. Interface simples para reportar o problema
  3. Um banco de dados da prefeitura funcionando
  4. Agilidade na prevenção

E, cá entre nós, eu fico pensando: será que os celulares poderiam ajudar nisso? Eles já estão na mão das pessoas, todo dia. Hoje, há uma série de aplicativos que ajudam as pessoas a identificar plantas, como o Like That Garden (IOS e Android). Seria ótimo ter um aplicativo semelhante que ajudasse a identificar árvores e cruzar essa identificação com sintomas comuns de doença ou fragilidade.

Não vai resolver todas as quedas de árvores na cidade (nunca há uma única solução para um problema complexo), mas já ajuda um bocado. Aí, dá para apreciar a beleza da Nove de Julho sem medo da chuva…