O que é?  Ficar parado em um dos lados da escada rolante e deixar o outro livre para que os mais apressados (ou atrasados) possam subir os degraus é uma norma de etiqueta urbana seguida à risca por passageiros do metrô em muitas cidades. No entanto, um estudo mostra que essa não é necessariamente a melhor forma de organizar o fluxo dentro das estações.

Se todo mundo ficar parado, chegamos todos mais rápido

Nova York, Berlim, Londres e São Paulo. Uma pessoa que pegar metrô em qualquer uma dessas metrópoles – e em muitas outras pelo mundo – entenderá um código de conduta ao se deparar com uma escada rolante. As pessoas devem ficar paradas à direita e deixar a esquerda livre para os apressadinhos. No entanto, já se começa a discutir a validade dessa convenção, e alguns lugares começam a incentivar os usuários do metrô a ocuparem os dois lados, permanecendo parados até o próximo andar. Apesar de poucas coisas serem mais frustrantes que ficar preso atrás de alguém que estacionou na escada rolante, estudos mostram que ocupar os dois lados talvez seja a melhor maneira de fazer todo mundo a chegar mais rápido.

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Londres foi uma das cidades a colocar essa questão na mesa. E londrinos são particularmente apegados aos seus costumes. Por isso, não surpreende que o jornal britânico Guardian tenha publicado que ver pessoas paradas nos dois lados da escada rolante do metrô é ultrajante. Foram três semanas de testes na capital inglesa, estimulando as pessoas a ficarem paradas dos dois lados ao longo dos 23,4 metros da escada rolante de subida da estação Holborn. Um estudo de 2002 mostrava que apenas 40% dos passageiros escalavam seus degraus. Logo, reservar o lado esquerdo para os apressados resultava em um subaproveitamento da sua capacidade e maiores aglomerações ao pé da escada.

De acordo com as contas do engenheiro de transportes de Londres, Paul Stoneman, fazer todos os ocupantes da escada permanecerem nos degraus permite que ela acomode 31 passageiros (28%) a mais por minuto do que se um dos lados permanecesse livre. Ao final da terceira semana de teste, a capacidade foi aumentada em 3.500 passageiros a mais por hora. Logo, o resultado superou as expectativas, chegando a acomodar um número de pessoas 30% maior.

O bom resultado pode incentivar os londrinos a estenderem a medida, mas a origem da mudança é de longe. A capital inglesa importou a ideia de Hong Kong, que havia se inspirado em Tóquio. E, se os ingleses parecem muito apegados à tradição de deixar um caminho livre aos apressados, no Japão é questão de identidade cultural. O lado de se subir os degraus na escada rolante é um dos pontos da rivalidade entre Tóquio e Osaka, as duas maiores metrópoles japonesas. Na capital (e na maior parte do país), as pessoas deixam o lado direito aberto. Na cidade portuária, adota-se a convenção ocidental.

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Isso perdeu sua força quando o Japão adotou uma campanha de prevenção de acidentes para banir essa regra básica da etiqueta urbana e promover a ocupação total da escada rolante. Entre 2011 e 13, 3.865 pessoas precisaram de tratamento hospitalar porque sofreram algum acidente nas escadas rolantes.

Considerando que as pessoas ainda mantêm distância umas das outras para não serem invasivas e evitar acidentes – o que também resulta em escadarias carregando menos pessoas do que poderia – não parece uma ideia tão ruim melhorar a circulação permitindo que elas fiquem paradas nos dois lados. Isso não pode até não fazer muita diferença nas escadas menores (o estudo recomenda que a medida seja aplicada em escadas com mais de 18,5 metros de extensão), mas certamente ajuda a desaglomerar os arredores daquelas que percorrem distâncias que poucos se animam em percorrer com suas próprias pernas.

Os londrinos estranharam no início, passaram a aceitar melhor a ideia na segunda semana e a ajudaram os funcionários do metrô a disseminar a nova convenção na terceira. Ainda assim, os  o departamento de transportes da capital inglesa planeja novos testes nos quais uma das escadas de subida da estação continue sendo regida pelas normas convencionais. Dessa maneira, se os passageiros estiverem dispostos a subir os degraus um por um, eles ainda poderão fazê-lo.

Aliviar as aglomerações nas estações parece um bom motivo para permitir que as pessoas permaneçam nos degraus do lado direito da escada rolante, ainda que em São Paulo a convenção de liberar a esquerda para quem está “no corre” tenha raízes mais profundas que a estação Pinheiros do metrô paulistano. Ninguém pensa muito sobre estar do lado certo da escada nas estações que frequenta diariamente, mas nem isso é assim tão óbvio quanto pode parecer.