Avenida Paulista cheia, com uma multidão celebrando a diversidade sexual em uma sociedade que ainda insiste em não a aceitar totalmente. Além disso, foi a oportunidade de pedir a aprovação da Lei de Identidade de Gênero. A Parada do Orgulho LGBT de São Paulo teve sua 20ª edição no último domingo (29) como um evento já consolidado no calendário de eventos da cidade. Segundo os organizadores, foram 3 milhões de pessoas, reforçando a posição da manifestação como a maior dos segmentos LGBT do mundo. Mas é mesmo?

A resposta seca para a pergunta acima é: talvez sim, talvez não. A Parada Gay de São Paulo já esteve mencionada no Guinness como a maior do mundo. Um título conquistado em 2004, quando recebeu 2,5 milhão de participantes de acordo com seus organizadores, e até hoje bastante citado quando se fala na importância do evento. No entanto, o livro dos recordes retirou a menção em 2008 e nos obrigou a entrar no universo sempre nebuloso e polêmico dos critérios para a contagem de multidões no Brasil.

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Normalmente, quantidade de participantes de uma manifestação de rua – seja ela uma parada pelo orgulho gay, uma marcha religiosa, um protesto político ou a comemoração da torcida de um time que conquistou um título – é dado pelos organizadores e pela polícia. Os primeiros têm sempre interesse em inflar o número para tornar seu evento mais relevante. As autoridades variam de acordo com o que elas pensam da causa representada na mobilização: se for contra o governo que ela representa, a contagem é jogada para baixo; se for a favor, concorda-se com o que os manifestantes dizem.

Avenida Paulista durante a Parada LGBT de 2016 (AP Photo/Andre Penner)

Avenida Paulista durante a Parada LGBT de 2016 (AP Photo/Andre Penner)

Isso ficou muito evidente nas Jornadas de Junho de 2013 e nas mobilizações pró e anti impeachment da presidente Dilma Rousseff de 2015 e 16. Mas a Parada LGBT de São Paulo já sofre com isso há muito mais tempo. E justamente por isso a organização do livro Guinness retirou o título de recordista mundial da manifestação da Avenida Paulista em 2008. Desde então, há muita discordância entre as contagens de participantes de cada nova edição do evento.

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Em 2012, o Datafolha adaptou seu método de contagem de multidões para a Parada Gay, considerando que uma parte significativa do público é flutuante e participa apenas de uma parte do evento. O número calculado foi de 270 mil, muito (muito mesmo) distante dos 4 milhões estimados pela organização. A Polícia Militar não fez um cálculo próprio. Nas últimas quatro edições, os números divulgados pela organização sempre ficou muito distante dos calculados pelo instituto de pesquisas ligado ao jornal Folha de São Paulo.

No momento, a questão não é qual dos métodos – o dos organizadores, o da polícia ou o do Datafolha – está correto. É que eles têm dado resultados muito distantes, o que coloca um grande ponto de interrogação sobre quantas pessoas realmente participam das paradas LGBT em São Paulo. Por isso, ela talvez até seja maior que a de Toronto, de São Francisco, de Nova York ou a de Madri. Pelo número do Datafolha, não é. Pelo número da organização, é com muita folga.

No final das contas, o único recorde nessa categoria registrado no Guinness está com Washington: a marcha em favor da lei que propunha direitos iguais a homossexuais – inclusive no alistamento militar – reuniu 300 mil pessoas em 2000.