A Páscoa ortodoxa será comemorada neste domingo, 1º de maio. Normalmente, é uma data esperada ansiosamente em Pireu. O feriado tradicionalmente marca o início da temporada de cruzeiros, e milhares de visitantes chegam à cidade portuária como parada para as centenas de passeios por Atenas, ilhas gregas ou pelo Mediterrâneo. Mas em 2016 será diferente. Os turistas são bem-vindos, mas ainda não se sabe direito como recepcioná-los.

Pireu é vizinha a Atenas e tem o maior porto da Grécia. Com isso, seu porto deixou de ser apenas uma parada para cruzeiros e ponto de referência da maior marinha mercante do mundo. O local também se tornou o local de chegada de milhares de refugiados que tentam se afastar das guerras em seus países – principalmente Síria e Afeganistão – para reconstruir a vida na Europa. Durante meses, a cidade grega era uma passagem, mas, nas últimas semanas, se tornou em abrigo provisório.

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Pela sua posição geográfica em relação ao Oriente Médio, a Grécia é um caminho natural desse ciclo migratório. Os refugiados chegam em terras gregas pensando em seguir o rumo para o norte, atravessando os Bálcãs até chegar à Alemanha. No entanto, essa rota foi interrompida nas últimas semanas. Bulgária, Macedônia e Albânia fecharam suas fronteiras para os imigrantes, que se viram presos na Grécia.

Rapidamente, a quantidade de refugiados em Atenas e Pireu se tornou maior do que as cidades podem acomodar, ainda mais considerando a situação econômica delicadíssima que vive a Grécia. Com isso, tendas foram erguidas no porto de Pireu, que se transformou em um campo de refugiados. Uma situação longe do ideal, em que há carência de serviços e até de segurança. Mas que pode ficar perto de insustentável com a chegada dos turistas.

O governo tem se mostrado compreensivo – ainda que visivelmente despreparado – com os refugiados e há elogios à solidariedade da maioria da população local (ainda que a crise também tenha impulsionado o crescimento do Alvorada Dourada, um partido de extrema-direita). Não houve grande pressão para impedir a chegada deles, tampouco forçar seu deslocamento.

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Um elemento que ajuda os imigrantes é o próprio passado da Grécia. A Guerra Greco-Turca (1919 a 1922) foi marcada por limpeza étnica, resultando em milhares de mortes e um acordo de troca de população no final do conflito. Assim, 500 mil muçulmanos – de origem grega e turca – que viviam na Grécia foram enviados para a Turquia, que mandou 1,5 milhão de ortodoxos – de etnia grega ou turca. Assim, boa parte da população grega atual descende de pessoas que chegaram a sua própria terra como refugiadas e tiveram de reconstruir sua vida.

No entanto, as condições dos sírios e afegãos se deterioram. Há relatos de doenças, brigas (até com uso de facas) e fome. A falta de perspectivas também abaixa o ânimo dos refugiados, que não encontram muitas possibilidades de se inserir em um país que já vive uma crise econômica.

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Nesse cenário, oferecer boas condições para a chegada dos turistas não pode ser vista como uma ação fútil, inversão de prioridades ou ignorar o sofrimento de muita gente logo ao lado. Os visitantes injetam bilhões de euros na economia grega, o que representa um alívio para a enorme indústria de turismo local – o que pode até criar oportunidades de trabalho temporário para alguns refugiados.

Desde março as autoridades criam novos espaços para abrigar os refugiados. Os estádios de beisebol e hóquei na grama, dois elefantes brancos dos Jogos Olímpicos de 2004, já estão cheios de tendas. Mas muitos não querem sair do porto, com medo de serem deslocados para regiões afastadas de Atenas – onde estão as poucas oportunidades econômicas palpáveis – e de olho na infraestrutura de transportes, que ajudaria em uma rápida viagem ao norte caso Macedônia, Albânia ou Bulgária reabram suas fronteiras.

A meta do governo é que todos os refugiados de Pireu estejam abrigados em outros lugares da Grande Atenas até este domingo. Que isso não seja apenas – mais um – deslocamento, mas uma ida a locais com condições e oportunidades melhores.

Obs.: Se você se vira bem no inglês, confira essa reportagem do Guardian e essa do Huffington Post, mostrando o dia a dia de refugiados no porto de Pireu.