“Londres está combalida, de luto, cabisbaixa, vazia.” Esses são os clichês básicos da cobertura jornalística para retratar o clima na capital britânica após o atentado que matou sete pessoas e feriu 48 no início deste mês. Seria compreensível, pois é o tipo de evento que deixa uma comunidade traumatizada, ainda mais porque ocorreu apenas duas semanas após um outro ataque terrorista em Manchester. Mas os londrinos não aceitaram esses relatos. Ainda bem.

Quando surgiram as primeiras reportagens, sobretudo na imprensa norte-americana, sobre uma cidade “combalida”, os ingleses fizeram o que fazem de melhor: piadas. As redes sociais foram palco da campanha #ThingsThatLeaveBritainReeling (#CoisasQueDeixamAGrãBretanhaCombalida em português), em que britânicos mencionavam coisas que atingem os costumes locais – como esquentar o chá no micro-ondas ou ficar parado no lado esquerdo da escada rolante – como reais motivos de tristeza.

É a melhor coisa que Londres e os londrinos poderiam fazer. Claro, ninguém está ignorando a gravidade dos atentados ou fazendo pouco da tristeza de quem foi vítima dos ataques. Mas a cidade, como uma comunidade, não pode se deixar abalar. Ela tem de se mostrar mais forte, ela tem de mostrar aos terroristas que nenhuma ação deles será capaz de mudar seu jeito de ser. Afinal, atingir o moral de uma população e fazê-la de refém é o objetivo dos atentados.

Os londrinos podem tomar como exemplo a história de sua própria cidade. Ao longo de séculos, Londres já sobreviveu a casos muito mais traumáticos: a Guerra Civil Inglesa (século 17), o Grande Incêndio de 1666, os bombardeios alemães na Segunda Guerra Mundial e os diversos ataques terroristas do IRA (Exército Republicano Irlandês) nas décadas de 1960 a 80.

É preciso mais que três infelizes atacando em uma noite de sábado para abalar a capital inglesa. A não ser que, ao invés de facas, eles levassem xícaras, água, um saquinho de chá e… micro-ondas.