O que é? O Seminário Internacional Cidades a Pé trouxe convidados do Brasil e do mundo para discutir segurança, direitos e estruturas para pedestres. Um dos temas tratados foi a mobilidade a pé e saúde, que levantou pontos interessantes sobre como as cidades podem se tornar também uma ferramenta para tornar seus habitantes mais saudáveis.

Qual é a sua desculpa?

Helsinque é gelada, quase polar, mas nem a neve atrapalha. Mesmo tendo um dos invernos mais rigorosos do mundo, a capital finlandesa incentiva seus habitantes a saírem nas ruas durante todo o ano. A cidade tem atualmente 620 mil habitantes e sua política atual de transporte prioriza pedestre, bicicleta, transporte público, transporte de carga e automóveis – nessa ordem.

A linha de raciocínio das autoridades locais é reduzir distâncias, de modo que as pessoas possam usar o carro o mínimo possível, pois quase sempre haveria uma opção melhor. “Para resolvermos problemas juntos, precisamos olhar uns nos olhos dos outros. Em Helsinque as pessoas fazem, em média, três viagens por dia” explica Reetta Putkonen, diretora de planejamento de transporte da capital finlandesa. “Temos centros conectados por trilhos e vamos adensar a área central para que as pessoas morem perto. É preciso uma combinação de serviços de mobilidade para incentivar mais gente a deixar o transporte motorizado individual.”

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O depoimento foi dado na palestra “Mobilidade a pé e saúde”, parte do Seminário Internacional Cidades a Pé, realizado na última semana pela ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos). O debate mostrou uma outra abordagem sobre os benefícios de uma cidade que incentive a mobildiade ativa e o transporte público: não é só tornar a cidade mais articulada e diminuir o trânsito, é também deixar o ambiente mais saudável para os habitantes.

Esse caminho também foi tomado por Renato Boareto, coordenador da área de mobilidade urbana do Instituto de Energia e Meio Ambiente. Ele destacou a importância de aplicar políticas públicas que incentivem o uso de meios de locomoção mais sustentáveis, como forma de reduzir o impacto ambiental.

O gestor ambiental defende que planos de mobilidade precisam expressar claramente o objetivo de reduzir o consumo de energia e emissão de poluentes para estimular a adesão da população ao transporte público e ativo. “A mobilidade urbana é sempre apontada como causa da poluição. A poluição é democrática, ela pega todo mundo. Mas se a pessoa tem dinheiro, não importa que seja caro – ela vai ter automóvel. As pessoas respondem aos sinais do poder público que dá facilidade de crédito e incentivo.”

Algumas dessas medidas dependem do poder público, pois várias cidades se tornaram hostis para pedestres. Além disso, campanhas públicas poderiam ser feitas para reduzir a população inativa, que chega a 45% atualmente no Brasil segundo Thais Mauad, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e autora de estudos sobre a importância das árvores urbanas para a saúde pública.

De qualquer forma, não basta apenas as autoridades tomarem medidas. Algumas pequenas ações podem ser feitas pela própria população. Foi a proposta do grupo Sampapé, que distribuiu mapas mostrando como certas distâncias entre estações do metrô de São Paulo podem ser percorridas a pé, dispensando o uso de condução.

Mapa com as distâncias a pé entre uma estação de metrô e outra

Mapa com as distâncias a pé entre uma estação de metrô e outra