Uma cidade diferente de outras europeias, mesmo as mais modernas. O modelo urbano foi todo feito pensando no século 21, ou no que o mundo da década de 1980 achava que seria o século 21. Tudo é planejado, com cada bairro tendo um estilo próprio, de acordo com seu idealizador. Há muita infraestrutura de lazer, como instalações esportivas, clínicas, centro para jovens, e cerca de 80% das residências são em apartamentos. Slavutych não parece um município ucraniano comum. E não é. Ela só existe por causa do pior acidente nuclear da história.

NO JAPÃO: Cinco anos depois, Japão não sabe o que fazer com ruínas do tsunami

A história dessa cidade começou há exatos 30 anos, quando o reator número 4 da usina nuclear de Chernobyl explodiu durante testes de segurança. O acidente causou 31 mortes imediatas, mais 64 por efeito imediato da radiação e pode chegar a 4 mil considerando efeitos prolongados dela. Todas as ocupações em um raio de 30 km da usina tiveram de ser evacuadas, o que incluiu os municípios de Prypiat, principal base de operações da instalação, e Chernobyl (atual Chornobyl, na grafia ucraniana), foram evacuadas.

Prypiat virou uma cidade fantasma. Todas as suas edificações foram abandonadas e o local se transformou em uma mostra em escala real de quanto tempo leva para a natureza tomar conta do espaço construído pelo homem. Em 1986, o município tinha 49 mil habitantes. A maioria fugiu, mas alguns queriam ou precisavam ficar. Afinal, os outros reatores da usina não foram desativados e eram necessários operadores especializados e funcionários administrativos.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Por isso, o governo da União Soviética decidiu construir uma cidade nova, a 50 km da usina – ou seja, fora da Zona de Exclusão –, para abrigar as famílias que deixaram Prypiat. Foram chamados construtores e arquitetos de oito repúblicas soviéticas – Armênia, Azerbaijão, Estônia, Geórgia, Letônia, Lituânia, Rússia e Ucrânia – para projetar os bairros. Cada um ganhou as características regionais de seus projetistas e o nome da capital de suas repúblicas. O local recebeu o nome de Slavutych, nome eslavo do rio Dnieper, e seus primeiros habitantes chegaram em outubro de 1988, dois anos após o início das obras.

Desde então, a cidade passou a seguir uma dinâmica própria. Toda sua economia girava em torno da usina de Chernobyl, responsável por 85% do orçamento municipal. A cidade foi planejada para ter muitas estruturas para crianças, que formavam cerca de 20% da população de Prypiat. Por isso, Slavutych tem seis jardins de infância, quatro escolas secundárias, um grande colégio de ensino médio e uma escola de arte infantil. Muita coisa para uma cidade que teve apenas 11 mil habitantes em seus primeiros anos e chegou a 25 mil no início deste século.

EVACUAÇÃO: Chernobyl, 30 anos: o clube que sumiu do mapa e o estádio abandonado que nunca inaugurou

A infraestrutura e a estabilidade econômica oferecia boa qualidade de vida para os habitantes de Slavutych, mas as marcas do acidente nuclear nunca deixaram seus habitantes. A incidência de doenças relacionadas a radiação e problemas de tireoide são muito acima do normal. Pessoas que se alimentaram de alimentos produzidos na região tendem a sofrer mais, ainda mais depois que surgiu uma lenda local de que a vodca limpa o corpo da radioatividade, fazendo que muita gente não se importasse tanto com a origem de sua comida.

Este slideshow necessita de JavaScript.

A situação econômica começou a piorar na virada do século. Aos poucos, a usina nuclear foi desativada. O reator 2 parou em 1991, após um incêndio. O número 1 fechou em 1996 e o 3, o último ainda operacional, em 2000. Na época, 9 mil pessoas trabalhavam em Chernobyl, apenas 3 mil mantiveram o emprego (exclusivamente com manutenção e monitoramento das instalações).

Mas o fechamento da usina criou uma outra atividade econômica: o turismo. Slavutych se tornou a principal base de empresas que organizam visitas guiadas a Prypiat e à Zona de Exclusão. Não é o suficiente para compensar a queda de investimento, mas ajudará a cidade a não ter o destino de sua antecessora: a de se tornar uma cidade-fantasma.