O que é? O público da TV Liberal, afiliada da Globo em Belém, elegeu o Ver-o-Peso como o maior símbolo da capital paraense. Um sinal da importância do mercado para a cidade, e que serve de lembrete de como ele tem um potencial para projetar a cidade, sobretudo em um momento em que a gastronomia virou um tema da moda no mundo.
Viver novas experiências, conhecer sabores inéditos
“A última fronteira gastronômica mundial.” É um título pomposo, que até soa exagerado, mas deve ser respeitado quando o responsável por ele é um dos maiores chefs do mundo. Foi assim que o espanhol Ferran Adrià se referiu à Amazônia, uma grande região do planeta com uma enorme biodiversidade, que proporciona milhares de ingredientes desconhecidos de muitas pessoas de fora. O que inclui mesmo no resto do Brasil. Bom para as pessoas que vivem na região e conhecem esses sabores. Melhor ainda para as cidades que puderem usar essa fama para capitalizar na onda mundial por gastronomia.
A comida demorou um pouco para virar tema da moda no Brasil, pelo menos em massificação. Ela veio nos últimos anos, e teve grande impulso com a criação da nossa versão do programa Masterchef. De qualquer modo, a TV a cabo já trazia programas desde a década passada, trazendo para uma parte do público brasileiro todo o crescimento desse assunto em diversos países do mundo.
Essa onda criou um novo público, o de entusiastas da comida. Pessoas que querem incluir experiências culinárias no seu dia a dia, incluindo nas férias. Vários lugares do mundo ganharam projeção, sejam países antes ignorados (Vietnã), regiões (Sichuan, China), cidades (Nova Orleans-EUA) ou mesmo estabelecimentos comerciais (Macelleria Cecchini, Panzano-ITA). O Brasil já tem suas referências, como o restaurante DOM e as churrascarias rodízio. Mas a tal “última fronteira gastronômica mundial” segue de fora. E, se for para se trabalhar nisso, já há um candidato natural.
O Mercado Ver-o-Peso, em Belém, já tem projeção no meio turístico. Localizado em um edifício histórico à beira da Baía do Guajará, é um dos pontos turísticos da capital paraense, foi visitado por alguns chefs internacionais que resolveram conhecer os tais sabores da Amazônia e até tem festival gastronômico. Nesta semana, foi eleito pelo público da TV Liberal, afiliada belenense da Rede Globo, como o principal símbolo dos 400 anos de Belém, que serão completados em 12 de janeiro de 2016. O mercado deixou para trás o Círio de Nazaré, o Túnel das Mangueiras, o Forte do Presépio e o bairro da Cidade Velha.
No entanto, a divulgação do espaço ainda é discreta. Sabe-se que o prédio do Ver-o-Peso tem valor histórico e que se encontra produtos diferentes do Mercadão de São Paulo ou do Mercado Central de Belo Horizonte. No entanto, não se faz um trabalho para mostrar o quão especial aquele lugar pode ser, o quão inédita seria a experiência de quem o visitasse (e não há nada que a geração atual mais ame do que “viver experiências inéditas”). Como fazer isso? Divulgação tradicional (publicidade), mas levar chefs famosos e a mídia para conhecer, levar chefs paraenses para eventos pelo resto do Brasil e o mundo, criar novas receitas com ingredientes locais e torná-los conhecidos como o açaí ficou.
Claro que pouca gente, no Brasil ou no mundo, faria uma viagem até Belém apenas por causa de seu mercado. Mas ele seria o chamariz principal para puxar todas as demais atrações da cidade, e não são poucas. Em um mundo que talvez nunca tenha falado e valorizado tanto a boa comida, a capital paraense tem uma oportunidade muito boa para se projetar.