O que é? Mais de 80% da população venezuelana vive em áreas urbanas e enfrenta uma grave crise de abastecimento. A agricultura urbana, defendida como prática do consumo sustentável nas cidades, está sendo promovida no país com o objetivo de reduzir a insegurança alimentar.
Agricultura urbana de subsistência
A agricultura urbana vem crescendo como meio de proporcionar alimentação de qualidade não apenas por quem pode pagar mais caro para comer melhor e ter mais autonomia no abastecimento, estimulando a produção local nas grandes cidades. Na Venezuela, a produção de vegetais, frutas, legumes e até mesmo granjeiros está sendo promovida em cidades por todo o país. Mas como forma de diminuir o impacto da crise de abastecimento pela qual passa o país.
O presidente Nicolás Maduro criou no início de 2016 o Ministério da Agricultura Urbana, uma pasta para gerenciar a produção de alimentos nas grandes cidades. A prática da agricultura nos centros urbanos venezuelanos tem a pretensão não apenas de complementar a produção do campo, mas também reduzir a importação. A ministra Lorena Freitez declarou que a meta é suprir 20% da demanda urbana por alimentos.
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O governo venezuelano lançará no próximo dia 27 o plano “100 Dias da Agricultura Urbana”. A data foi escolhida para relembrar o “Caracazo”, uma insurreição popular na capital para protestar contra a reforma econômica – que resultaria em um aumento de 100% da tarifa do transporte coletivo e 600% no preço do pão, enquanto os salários receberiam 30% de reajuste – que teve início em 27 de fevereiro de 1989. A revolta contra o pacote foi reprimida violentamente e deu início a uma série de desdobramentos que levaram ao fortalecimento do Movimento Bolivariano Revolucionário 200, culminando na tentativa (fracassada) de golpe de estado liderada por Hugo Chávez em 1992.
A iniciativa da agricultura urbana pretende mobilizar aproximadamente 400 escolas, movimentos sociais e comunidades no cultivo urbano, que inclui a produção em tetos verdes. Segundo a ministra, o dia marca o início do primeiro ciclo oficial de agricultura urbana, e a expectativa é que o plantio de ciclo curto possibilite que a primeira colheita seja feita entre abril e maio.
O país reduziu os incentivos à produção agrícola conforme seus rendimentos com a extração de petróleo aumentavam. A baixa nos investimentos no campo levou a uma migração massiva para os grandes centros urbanos, enquanto as áreas rurais careciam de serviços públicos básicos e apoio técnico e financeiro. A isso se soma os atritos do governo com as empresas de processamento e distribuição de alimentos, sobretudo a Polar, líder do mercado. Em 1999, as importações respondiam por 70 a 80% do abastecimento de alimentos na Venezuela, em grande parte vendidos a preços inacessíveis para as pessoas de baixa renda.
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Em 2013, foram contabilizados mais de 24 mil unidades de produção agrícola em áreas urbanas na Venezuela. Atualmente está sendo conduzido um registro dos produtores agrícolas nos estados de Vargas e Miranda e no Distrito Capital, que, juntos, abrangem a Grande Caracas. O país enfrenta escassez de componentes básicos da alimentação como carne, pão e leite.
A Assembleia Nacional da Venezuela, de maioria oposicionista, decretou estado de emergência alimentar no início de fevereiro, responsabilizando a ineficácia produtiva e à falta de dólares para importação de matéria prima. A inflação acumulada em 2015 foi de 180,9%, a mais alta da história do país, influenciada pela queda do preço do petróleo no mercado internacional.