O que é? Essa semana o Airbnb publicou um release para rebater as acusações de que seus usuários estariam disponibilizando suas casas para locação temporária em busca de lucro. A migração de imóveis que antes eram negociados em contratos de longo prazo e passaram a buscar inquilinos eventuais é apontada como fator agravante da crise do mercado imobiliário em cidades onde há escassez de imóveis, como Berlim e São Francisco. Em Nova York, apesar de os números divulgados pelo Airbnb apontarem que a maioria dos anfitriões têm apenas uma propriedade para alugar na plataforma, os 4% que ofertam três ou mais imóveis inteiros são responsáveis por 24% do lucro obtido entre aqueles que disponibilizam toda a área de seus apartamentos ou casas.
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Uma economia de compartilhamento com lucros concentrados
O conceito original do Airbnb é compartilhar espaços disponíveis em propriedades privadas em busca uma experiência mais próxima do cotidiano local. No entanto, quando alugar um apartamento nesse modelo se torna mais vantajoso que cedê-lo por um longo prazo, começa a haver um problema de habitação. Enquanto quem visita a cidade tem opções de sobra para considerar na hora de procurar um abrigo, quem procura moradia enfrenta um mercado cada vez mais restrito.
O projeto Airbnb vs Berlin, elaborado durante um curso da faculdade de design da escola de ensino superior de Postdam, disponibilizou visualizações gráficas de dados sobre locadores que ofertaram mais de um imóvel na plataforma. Os usuários berlinenses participantes do “top 10” somaram 281 ofertas de imóveis ou quartos na plataforma (segundo dados coletados entre janeiro e fevereiro de 2015). Alguns deles são claramente empresas e nem chegam a se identificar como indivíduos. O fato de alguns usuários disponibilizarem várias vagas em um mesmo anúncio indica que empresários do setor (donos de pousadas, albergues, pequenos hotéis) também fazem uso da plataforma para potencializar seus lucros.
O Airbnb se encontra à margem das regulações válidas tanto para o mercado hoteleiro quanto o imobiliário, mas possui efeitos sobre os dois. Em Berlim, em geral é muito mais barato ficar em hotéis que alugar um espaço disponibilizado via Airbnb e, em Nova York, as ofertas feitas por meio da plataforma não se submetem às leis de segurança que se aplicam aos hotéis. O Huffington Post apurou que 127 anfitriões estão levantando entre US$ 100.001 e US$ 350.000 com seus imóveis no Airbnb. Na capital alemã há uma lei que proíbe proprietários de aumentarem os aluguéis de suas propriedades em mais de 10% em relação à média local.
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Cada anfitrião berlinense do Airbnb oferece vagas em 1,3 imóveis diferentes em média. Esse número é mais alto que o de Nova York, onde tem se mantido constante em torno de 1,2 unidades por usuário. O mapa abaixo, do Airbnb vs Berlin, indica quais são as locais onde se concentram o maior número de ofertas. Destaque para Sonnenallee e Weserstrasse, ruas que somam um total de 200 anúncios na plataforma.
O projeto dos estudantes da FH Postdam aponta que 29,5% das ofertas feitas no Airbnb Berlim são feitas por potenciais locadores profissionais. Em Hannover, também na Alemanha, esses anúncios representam 60% do total. Esses indicadores mostram que aquela que poderia ser uma saída para quem está com dificuldades para cobrir os custos de manter seu imóvel está se tornando um problema para quem mora de aluguel.