Uma hora da tarde em durante o fim de semana é um dos momentos em que menos se consome energia elétrica durante a semana. Mas alguns alemães que faziam isso no último domingo tiveram uma boa notícia: gastar energia foi lucrativo. Tudo porque, perto da hora do almoço, o país teve um momento que uniu sol e ventos fortes.

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O clima criou uma condição extraordinária para as usinas de energia eólica e solar. Houve um pico de produção e o sistema recebeu 55 GW de energia renovável – que ainda considera produção hidrelétrica e biomassa –, 87% dos 63 GW que eram consumidos no país naquele momento. Com o excesso de oferta e a falta de procura, o preço da energia despencou durante quase toda a tarde, chegando a valores negativos. Ou seja, o gerenciador do sistema pagou para a energia ser utilizada.

Flutuação de geração, consumo e preço da energia no fim de semana na Alemanha (Quartz/Agora Energiewende)

Flutuação de geração, consumo e preço da energia no fim de semana na Alemanha (Quartz/Agora Energiewende)

Parece uma ótima notícia: a produção de energia limpa é forte e o custo flutuante da energia funcionou ao ponto de ficar negativo quando houve pico de oferta. Mas não é bem assim. O estranho fenômeno do último domingo expõe alguns ajustes que o sistema precisa.

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De fato, a Alemanha tem bons motivos para se orgulhar de seu estágio no desenvolvimento sustentável. Em 2015, os alemães tiveram recorde de produção e exportação de energia renovável. Cerca de 33% da eletricidade consumida no país veio de fontes limpas e o preço do quilowatt/hora teve queda média de 10%. A meta do governo é que 100% da energia seja renovável até 2050.

Manifestação do Greenpeace em favor de energia limpa diante do Portão de Brandemburgo, em Berlim (AP Photo/Michael Sohn)

Manifestação do Greenpeace em favor de energia limpa diante do Portão de Brandemburgo, em Berlim (AP Photo/Michael Sohn)

O problema é que o sistema ainda não é flexível. Usinas de gás conseguem reduzir ou interromper bruscamente sua produção durante uma alta repentina de energia renovável, mas outras fontes “tradicionais”, como nuclear e carvão, não têm a mesma capacidade. Com isso, elas seguem sua operação normal, mantendo o consumo de recursos naturais e criando superoferta de energia no mercado – que acabou levando ao preço negativo.

Outro lado ruim é que o usuário comum não tem a conta de luz condicionada às flutuações do preço da energia. Para ele, a baixa repentina do último domingo teve efeito muito pequeno. Os principais beneficiados foram as indústrias.

Fica para o próximo dia de sol e vento forte.