A mania chegou ao Brasil. Nesta sexta, várias lojas anunciam promoções de produtos marcando a Black Friday. É uma celebração que não faz tanto sentido por aqui, porque os descontos nem sempre são tão grandes quanto se imagina e, principalmente, porque não há ligação desse 27 de novembro com uma outra data (no caso, o Dia de Ação de Graças). Mas, se você achar algum produto legal por um preço camarada, nada o impede de aproveitar a barganha.
Mas por que estamos falando de Black Friday aqui no Outra Cidade? Vamos começar a vender alguma coisa? Não, nada disso. É que nem todos sabem, mas toda essa festa da gastança teve origem em um problema puramente urbanístico: o trânsito em uma grande cidade americana. Os nossos amigos do ExtraTime contaram essa história ano passado, e vale relembrar.
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Como um jargão policial para o trânsito da Filadélfia virou sinônimo de compras
Um dia duro de trabalho, muito trabalho. A sexta-feira após o Dia de Ação de Graças era sinônimo de problemas para os policiais da Filadélfia na década de 1960. A população aproveitava as comemorações da quarta quinta-feira de novembro para emendar um feriadão. Como sexta e sábado eram dias úteis no comércio, todos iam às lojas para começar as compras de Natal. Resultado: uma multidão nas ruas, o trânsito ficava um caos e os policiais tinham de trabalhar loucamente para organizar a bagunça. Assim, apelidaram esses dias de Black Friday e Black Saturday.
Até aquele momento “Black Friday” era uma expressão usada para simbolizar algumas sextas em que coisas graves ocorreram, como “Bloody Sunday” representa um domingo de conflitos religiosos na Irlanda. Mas o primeiro registro de “Black Friday” como o dia seguinte ao de Ação de Graças é de 1961, justamente entre policiais da Filadélfia. Não era uma expressão das mais positivas, era uma reclamação pelo excesso de trabalho. Os comerciantes reclamaram, pois era um dia de grande faturamento para eles. Houve reuniões com a prefeitura para dar uma nova cara para esses dias de tráfego intenso.
Veja o relato de uma edição de 1961 da revista Public Relations News.
“Um desestímulo para os negócios, o problema [o nome Black Friday e Black Saturday] foi discutido entre os comerciantes com o representante municipal Abe S. Rosen, um dos executivos com mais experiência em relações públicas. Ele recomendou uma abordagem mais positiva, que converteria a Black Friday [Sexta-Feira Negra] e o Big Saturday [Sábado Negro] em Big Friday [Grande Sexta] e Big Saturday [Grande Sábado]. A mídia cooperou espalhando as notícias das belas decorações de Natal no centro da Filadélfia, da popularidade do “dia de sair com a família”, das lojas de departamentos no fim de semana de Ação de Graças melhorarem a estrutura de estacionamento e do aumento de policiamento para garantir o melhor fluxo do tráfego. Rosen relatou que os negócios durante o fim de semana foram tão bons que os comerciantes da Filadélfia estavam com ‘os olhos brilhando’.”
Os nomes Big Friday e Big Saturday não pegaram, mas as ações comerciais tiveram resultados. Na década de 1970, outras cidades norte-americanas adotaram a mesma medida, e espalhou-se a ideia de que o nome “Black Friday” tinha a ver com os lucros das vendas (nos Estados Unidos, a cor preta é usada como no Brasil se usa o “azul” para simbolizar balanço financeiro positivo).
Com o tempo, as ações de marketing dos comerciantes se transformaram em grandes descontos e promoções, ajudando a marcar ainda mais a Black Friday como dia de se comprar muito e preparar o fôlego para as compras de Natal.