Onze de março é uma data dolorida para os japoneses. Nessa data, em 2011, um terremoto seguido por tsunami devastou o litoral nordeste de Honshu, a principal ilha do país. As províncias de Miyagi e Iwate foram as mais atingidas, em uma devastação que destruiu cidades, a infraestrutura e levou a vida de quase 20 mil pessoas. Para piorar, o desastre abalou as instalações da usina atômica de Fukushima, que passou a vazar radiação no segundo pior acidente nuclear da história.
Passaram-se cinco anos, e o Japão ainda tenta cicatrizar as feridas. Até hoje há buscas por corpos dos 2.561 desaparecidos. Dos cerca de 100 mil moradores da prefeitura (equivalente a província, não confundir com prefeitura municipal) de Fukushima que tiveram de evacuar suas casas após o desastre nuclear, 18.322 ainda vivem em abrigos provisórios. Além disso, a Tepco, empresa responsável pela usina, não sabe como acessar o material radioativo que continua vazando.
Mas a situação mais intrigante ocorre nas ruínas das cidades atingidas pelas ondas que atingiram dez metros naquela manhã. As casas menores foram destruídas e arrastadas, mas vários prédios permaneceram em pé. Suas estruturas resistiram como esqueletos, enquanto paredes e interior se renderam ao tsunami. A maior parte das cidades já foi limpa e está em reconstrução, mas algumas dessas construções sobreviventes não foram tocadas.
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Cerca de 100 mil pessoas – normalmente japoneses de outras regiões – já visitaram as cidades destruídas para um “estudo de desastre”, conhecer o local da tragédia para entender que erros foram cometidos e devem ser evitados no futuro. Esse movimento ganhou o apelido de “turismo negro”, porque obviamente há um componente meio mórbido nessa história.
Sendai decidiu preservar a escola usada como abrigo para 300 pessoas. Tomioka manteve a estação de trem com o painel indicando os trens que passariam naquele 11 de março. Mas há caso em que a população está dividida.
Em Otsuchi, o famoso barco que pousou sobre uma casa (foto acima) foi retirado, claro. Mas o prefeito Kozo Hirano decidiu demolir definitivamente e reconstruir a antiga sede do governo municipal. No entanto, os vereadores vetaram a proposta, mantendo o edifício em que morreram 40 pessoas, incluindo o prefeito da época, Koki Kato.
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Um grupo de estudantes apresentou um pedido coletivo para que todas as ruínas da cidade sejam mantidas para a posteridade. A situação é comparada com a do Memorial da Paz de Hiroshima, restos do prédio da prefeitura que foi destruído na explosão da bomba atômica de 1945. Curiosamente, foram necessários 20 anos de discussões até decidir-se pela transformação do prédio em monumento.
Em uma cultura que valoriza tanto pela preservação da memória dos antepassados e não tem medo de se lembrar dos momentos de dor, essa discussão tem sentido. Ainda mais porque, se a vida de tantas pessoas ainda não voltou ao normal, os cinco anos do tsunami podem parecer pouco tempo para entender o impacto da tragédia.