Houve um tempo, num passado não muito distante, em que eu conseguia saber a hora exata em que um ônibus passaria perto de casa, aqui em São Paulo. Havia alguns aplicativos, como o “Onde está meu ônibus?”, que funcionavam muito bem. Ele abria um mapa e me mostrava onde estava o ônibus – com exceção dos dias de chuva, quando o aplicativo caía e demorava um tempão para voltar.

Cidades inteligentes no Gizmodo: O dia em que seu ponto de ônibus vai falar com você 

Em janeiro de 2015, saí do Brasil para estudar e voltei apenas no final de maio do mesmo ano. Para meu desgosto, alguns dos aplicativos tinham parado de funcionar. A alternativa, o “Cadê o Ônibus?”, ainda não me pegou totalmente. A interface tem muitas telas e, confesso, às vezes eu fico perdido. Eu estou bastante acostumado com celulares, interfaces, navegação. É o meu trabalho. Se eu fico perdido, imagine, sei lá, as pessoas que têm uma relação fria e distante com tecnologia?

Os aplicativos têm um enorme potencial, mas precisam ser mais simples e diretos. Tenho certeza que cada um desses aplicativos sabe dos problemas e está tentando melhorar. E, claro, eles merecem aplausos sinceros simplesmente por existirem e me ajudarem a economizar alguns minutos de vida.

De qualquer forma, eu me pergunto: será que um aplicativo é a melhor e única forma de resolver esse problema? Existem outras maneiras de resolver os buracos de informação no transporte público? Como a gente pode economizar o tempo das pessoas com produtos que sejam mais eficientes?

Essas perguntas se aplicam a transporte, mas não apenas. E se a gente tivesse um jeito mais eficiente de descartar lixo reciclável? E de usar energia? E de organizar o fluxo de automóveis em grandes avenidas? E de iluminar as cidades? E se a gente conseguisse utilizar tecnologia para limpar os rios em prazos menores?

São problemas reais. Se fossem resolvidos, teriam um grande impacto nas nossas vidas brasileiras e urbanas. Mas não é apenas no Brasil que as pessoas estão tentando colocar camadas e mais camadas de inteligências nas grandes cidades.

Sidewalk Labs

O Google recrutou  Daniel L. Doctoroff, que foi executivo da Bloomberg e responsável pelo desenvolvimento econômico da cidade de Nova York, para tocar uma startup chamada Sidewalk Labs. Segundo o The New York Times, a missão da recém-nascida companhia é encontrar tecnologias para diminuir a poluição, melhorar o transporte, reduzir o consumo de energia e tornar as cidades mais baratas para viver (ou impedir que elas fiquem ainda mais caras).

Em entrevista ao jornal americano, Doctoroff disse algumas coisas que nós, aqui no Outra Cidade, acreditamos de coração: “Estamos próximos de um momento histórico para as cidades”.  Para o criador do Sidewalk Labs, há muitas tecnologias aparecendo e ficando viáveis muito rápido, como sensores e softwares para monitorar cidades. No Sidewalk Labs, o objetivo é trabalhar tanto com hackers com espírito público quanto com grandes companhias que possuem tecnologia e escala. Afinal, a missão é resolver problemas.

O nó, claro, é como aplicar essas soluções em larga escala sem aumentar a vigilância sobre as pessoas. Há sempre um risco, para o qual temos de ficar atentos. Afinal, sensores significam coleta de dados. E a gente ainda não sabe ao certo qual o limite entre coletar dados e se meter na vida alheia.

Centro de Operações do Rio 

Outras grandes empresas, como a IBM e a Cisco, já possuem setores dedicados a usar tecnologia para deixar as cidades mais inteligentes. Além dessas grandes companhias, já há algumas universidades no planeta com times dedicados apenas a essa ciência das cidades. A Universidade de Nova York e a Universidade de Chicago são algumas delas.

A IBM, aliás, é um dos principais apoiadores do Centro de Operações da Prefeitura do Rio de Janeiro. O vídeo abaixo, feito pela empresa, explica como e por que ela participou da iniciativa. Uma das tecnologias criadas pela IBM faz previsões do tempo em áreas específicas da cidade. Isso ajuda a retirar as pessoas antes de um deslizamento de terra em favelas, por exemplo (ou deveria…)

Ainda há um longo caminho até que essas tecnologias sejam implementadas em larga escala. Mas o envolvimento do Google em uma iniciativa assim é significativa. O Google é uma empresa gigantesca que trabalha, basicamente, com informações. Ela organiza todas as informações que existem no mundo. O fato de ela se mover para o mundo além-telas e se meter em concreto, asfalto e poluição é um sinal de que os tempos, meus amigos, estão mudando.

Foto: Richmond, capital da Virgínia, nos EUA. Mas parece uma rede de dados, não? A imagem é de Sitomon, na Wikipedia.