A expressão “vida após a morte” pode ganhar um novo significado, mesmo para quem não tem religião ou não acredita em Deus. É a possibilidade que se abriu com o desenvolvimento da Bios Urn, uma urna que simbolicamente transfere as cinzas de uma pessoa para uma muda de árvore. A ideia foi lançada em 2013 e que, após testes e uma campanha no Kickstarter realizada entre março e abril deste ano, conseguiu recursos para sua produção comercial, com preço de venda em € 120.

O projeto é dos irmãos espanhóis Roger e Gerard Moliné. Os dois designers de Barcelona projetaram a uma urna em material biodegradável, que receberia as cinzas de uma pessoa e a misturaria com terra. A peça pode ser colocada dentro da Bios Incube (€ 350), uma incubadora que, por meio de um chip e sensores, alimentaria a semente – o cliente pode escolher a espécie dentro de uma lista definida pelo fabricante – com a quantidade certa de água e, quando a muda se transformasse em árvore, se desmancharia (o material é biodegradável).

Outra ferramenta interessante da Bios Urn e Incube é a possibilidade de se acompanhar o desenvolvimento da árvore por um aplicativo de celular, dando a certeza para uma pessoa que a planta que simboliza seu parente precisa de algum cuidado especial. É possível levar e cuidar da muda em casa, mas a empresa oferece pontos para o plantio de diversas urnas biológicas, que acabariam formando um bosque ou uma floresta.

É justamente nesse último ponto que essa criação se relaciona com vida nas cidades. A Bios Urn surge como uma ideia verde e que permite um simbolismo de “transferir” uma pessoa que faleceu para um ser vivo que está nascendo. Mas o impacto prático disso é abrir a discussão sobre o futuro dos cemitérios e da forma como ligamos com os familiares e amigos que morreram.

Por mais que as pessoas queiram manter viva a memória e a ligação com as pessoas que já se foram, os cemitérios são uma bomba urbana prestes a explodirem. A cada dia, cada semana, mais e mais pessoas morrem e são enterradas, e o espaço destinado a seus corpos é limitado. Além disso, o mercado imobiliário está aquecido em boa parte das metrópoles mundiais e o custo do metro quadrado torna proibitivo a busca por terrenos amplos para a criação de novos cemitérios.

Em Hong Kong, uma cidade de 7 milhões de habitantes dentro de uma ilha, os espaços para sepultamento já se esgotaram e o governo criou diversas medidas para reduzir o impacto desse problema. Na Inglaterra, um estudo realizado em 2013 apontou que os cemitérios do país estarão esgotados em 2033. Ainda que sejam criados túmulos mais apertados ou se reutilizem alguns, isso só serviria para ganhar um pouco mais de tempo.

No final das contas, será preciso repensar a forma de lidar com os antepassados. E a possibilidade de criar uma forma de conectar uma pessoa morta a uma nova árvore soa emocionalmente interessante, tanto que a Bios Urn nem é a única iniciativa nessa área. Em 2015 já havia sido lançado o SpíriTree.

Se esse caminho ganhar força, pode iniciar uma redefinição sobre os cemitérios. Ou eles perderiam muita importância, ou se tornariam bosques e parques urbanos.