O que é? A vida noturna atrai turistas, aumenta a sensação de segurança e movimenta todo um setor da economia. Para garantir que os moradores mais pacatos tenham o seu merecido sossego sem causar prejuízos para os negócios locais, Amsterdã, Paris e Zurique criaram o cargo do prefeito que fica responsável pela cidade no turno da noite.
Agito sem distúrbio
Mirik Milan tem a função de administrar a vida noturna de Amsterdã, a primeira cidade a criar um cargo como esse na Europa. Ele assumiu o cargo de prefeito da noite em 2012, período no qual foi ampliada para 24 horas a licença de funcionamento para que de bares, pubs e casas noturnas possam ter liberdade para definir seus horários de abertura e fechamento sem precisarem de permissões adicionais.
Ainda é cedo para avaliar o impacto dessa medida em Amsterdã, mas uma política parecida foi adotada em Londres em 2005 e teve efeitos positivos como a redução do consumo de álcool per capita em 17%. O relatório publicado em 2015 pelo Instituto de Assuntos Econômicos enfatiza que apesar da expectativa de que a regulamentação causasse mais danos relacionados com o consumo de bebidas alcoólicas, houve queda de 9% nos distúrbios da ordem pública e de 40% na taxa de crimes violentos desde que ela foi adotada.
Apesar de Milan destacar a flexibilização da permissão de funcionamento como uma das principais conquistas da sua gestão, o prefeito da noite na capital holandesa não tem poder deliberativo. O papel desempenhado por ele é mais próxima de um mediador que representa os interesses dos atores econômicos que movimentam as madrugadas de Amsterdã.
Em entrevista ao IBTimes UK, Milan defende que a medida tem um papel importante na prevenção de distúrbios relacionados com o consumo de álcool, pois cada estabelecimento tem um horário diferente de fechamento, de maneira que os seus clientes não vão para as ruas todos de uma vez. Ele conta que tenta fazer as autoridades locais entenderem que a vida noturna também traz benefícios para a cidade.
Não é uma tarefa simples: ampliar as possibilidades econômicas durante a noite nas cidades, atraindo turistas e jovens sem afugentar os moradores e mantendo sob controle o consumo de álcool e a violência. É preciso garantir que as pessoas que preferem se recolher durante as madrugadas possam dormir tranquilas, uma vez que a maior parte do faturamento local é proveniente de negócios que fecham as portas exatamente quando a noite começa.
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Tentativas abruptas de reprimir a vida noturna podem ter efeitos desastrosos, como aconteceu em 2013 em Madri, quando foi estabelecida uma zona de baixo ruído na região central, onde passaram a ser negadas as licenças para bares e clubes. Na mesma época, como vários pubs foram levados à falência pelo aumento do imposto sobre a bebida alcoólica, os madrilenos começaram a comprar drinks de vendedores de rua, e todos – vizinhos, administração pública, os próprios consumidores – acabaram sendo prejudicados de alguma forma.
Mas a vida noturna não se resume a barulho, aglomerações e bebedeiras. Também cabe ao prefeito da noite promover o funcionamento de bibliotecas, restaurantes e serviços básicos como farmácias e mercados até altas horas. São Paulo, onde muitos dos estabelecimentos aos quais os notívagos podiam recorrer estão suspendendo os plantões da madrugada, poderia fazer bom uso de um representante noturno para voltar a ter ruas mais movimentadas, o que contribui para diminuir a sensação de insegurança.
Tratar a vida noturna como sinônimo de desordem é um erro, e saber tirar proveito dela exige flexibilidade e negociação. Em Amsterdã uma das ações mais recentes do prefeito noturno foi a adoção de regras para reduzir o ruído, colocando agentes nas ruas (que não são policiais nem seguranças) para explicar quais são os limites socialmente aceitáveis e minimizar a escala dos distúrbios causados por comportamentos desmedidos. Londres e Berlim também estão estudando a possibilidade de adotar uma figura mais familiarizada com o que acontece na cidade de madrugada para gerenciar a noite local.