Assim como no Brasil, os incêndios nas favelas da Cidade do Cabo, África do Sul, são frequentes e se espalham rapidamente pelas ruelas de difícil acesso onde o socorro demora para chegar. Usando uma tecnologia desenvolvida pela Universidade da África do Sul, um grupo de 20 parceiros convidados pela Cruz Vermelha está fazendo os primeiros testes em um modelo de sensor que detecta o fogo e envia um aviso por SMS para alertar os vizinhos.

O improviso de instalações elétricas e estruturas das casas, principalmente das cozinhas, contribui para que as favelas sejam rapidamente consumidas pelo fogo. A dificuldade para os bombeiros localizarem e chegarem até o foco do incêndio nos locais onde não há nomes de rua e o difícil acesso atrasam o atendimento das emergências e dificultam a evacuação.

Para diminuir os riscos evolvidos, um sensor de incêndio de baixo custo está sendo testado em duas mil casas na província de Cabo Ocidental. Usando uma rede Mesh que envia alertas via rádio e celular, os detectores alertam os moradores locais e custam uma fração do valor dos detectores de fumaça comuns.

Nos locais onde as moradias improvisadas nesses locais são construídas com materiais inflamáveis e bem próximas umas das outras, quanto antes as pessoas aptas a ajudar forem avisadas, mais chances de evitar que o incêndio devaste comunidades inteiras. Os estudantes da Cidade do Cabo começaram a desenvolver o sistema depois que um incêndio deixou 4 mil pessoas sem casa e quatro mortos em Khayelitsha, região habitada por aproximadamente 1 milhão de pessoas.

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O equipamento está sendo desenvolvido por um grupo de engenheiros na Universidade da África do Sul que se reuniram para fundar uma startup chamada Lumkani. O sensor é capaz de diferenciar fumaça – que pode ser produto de uma cozinha improvisada, por exemplo – de chamas. O sistema formam uma rede para que os vizinhos sejam avisados quando há um incêndio em algum local próximo por mensagem de texto.

Vizinhos que estejam perto do incêndio também podem ajudar a apagar o fogo, uma vez que incêndios em favelas rapidamente passam de um problema individual para um problema da comunidade. A Lumkani também está mapeando fontes de água e buscando formas de organizar formas mais eficientes de combater as chamas.

Ainda que grandes organizações humanitárias estejam envolvidas no desenvolvimento do sensor, elas não serão responsáveis por prover o equipamento, função que ficará a cargo dos microempreendedores locais. Por isso, os engenheiros atualmente estão trabalhando em meios de reduzir os custos de fabricação para que os moradores desses assentamentos informais tenham condições de comprar os sensores.

Algumas das melhorias previstas para os sensores se tornarem mais eficientes são a implantação de um sistema que notifica diretamente os bombeiros ou uma brigada informal de incêndio composta por voluntários, fornecendo dados GPS para a localização do incêndio. Como o sensor por si só não é capaz de eliminar os riscos de incêndio nesses lugares, a iniciativa também mapeou fontes de água, locais onde há incêndios recorrentes escolas e potenciais focos.

A comunidade de Khayelitsha sediou programas de educação em segurança e combate ao fogo durante oito meses e foram montadas equipes comunitárias de resposta à desastres. O mesmo foi feito em Mukuru, favela em Nairóbi, capital do Quênia.

Na África, aproximadamente 60% da população urbana vive em assentamentos informais, concentrando o maior número de habitantes de favelas no mundo todo. O sistema desenvolvido pode ser uma boa solução temporária para que as comunidades tenham mais chances de defenderem suas vidas e moradias contra um problema que exige respostas urgentes.