O que é? Aproximar a arquitetura da sociedade em oposição ao projeto pelo projeto, mas sem desprezar o desenho é a principal proposta do chileno Alejandro Aravena. O arquiteto foi o ganhador da edição 2016 do Prêmio Pritzker, o mais importante da arquitetura. O seu escritório Elemental construiu mais de 2,5 mil unidades de habitação social, entre outros projetos.
Focar no que é necessário, sem pré-concepções
Alejandro Aravena busca fazer uma arquitetura de soluções, que responda às necessidades sociais e se integre com as características do entorno. Em contraste com projetos arquitetônicos autorreferentes, seu trabalho tensiona os limites do campo profissional. Nos projetos habitações sociais projetadas por ele, há destaque tanto para o desenho quanto a relação com a localização.
Na sua concepção, a escassez de recursos é uma oportunidade para se concentrar no que realmente importa. A arquitetura que responde às necessidades mais urgentes da sociedade tem encontrado reconhecimento no prêmio Pritzker, do qual Alejandro Aravena é o mais recente nomeado. Nos anos anteriores, foram premiados Shigeru Ban que fez projetos de baixo custo e reduzido impacto ambiental, em 2014; e Frei Otto, responsável pela concepção de estruturas leves e resistentes como o teto do parque olímpico de Munique, eleito em 2015.
Na América Latina, onde a migração da população rural para as grandes cidades é intensa, o déficit de habitação se torna cada vez mais evidente na expansão sem planejamento, forjada na moradia informal. Para fazer projetos socialmente relevantes, Aravena defende que a população deve ser ouvida para que as estruturas sejam resilientes à instabilidade dos ciclos políticos.
A proposta do arquiteto é de que seja incluído um quarto “P”, de popular, nas chamadas PPS (parcerias público-privadas). A ideia é possibilitar que o setor público expanda sua atuação para além da cobertura dos déficits, sem abrir mão do controle por meio de regulamentações que garantam a geração de bem comum e não apenas lucro individual.
Em entrevista à repórter Mariana Siqueira, da revista AU, o arquiteto declarou que “Em um mundo desenvolvido, com muitos recursos, o risco é que se produza uma escassez de sentido. A característica distintiva e a contribuição que a América Latina pode ter seria unir contextos de certa escassez – e uma escassez de recursos pode levar a uma abundância de sentido e de bom senso”.
Um dos seus trabalhos mais representativos foi o projeto desenvolvido em Iquique, onde havia abundância de área para abrigar as edificações, mas pouco dinheiro para transformá-la em espaço construído. A solução encontrada pelo escritório de Aravena, o Elemental, foi construir estruturas expansíveis, que pudessem ser valorizadas ao longo do tempo. “Habitação não é apenas um refúgio para se proteger do meio ambiente, das intempéries, mas uma ferramenta para superar a pobreza”, argumenta o arquiteto que concebeu o complexo com 93 casas, construído em 2004.
Nem se limitar a fazer diagnósticos dos problemas sociais e se eximir de elaborar novas propostas, nem basear projetos na exibição criativa em si. O trabalho de Alejandro se encontra na fronteira entre a busca de respostas que se relacionem com o contexto e a inovação do desenho. Suas obras demonstram que é possível se submeter às leis de mercado sem abrir mão do impacto social.