O que é? Dois paulistanos que se conheceram no curso de administração de empresas lançaram uma ferramenta de aluguel de carro com base na localização do proprietário e do locatário. Inicialmente focada nos bairros de Pinheiros e Vila Madalena em São Paulo, o Pegcar surgiu inspirado em modelos americanos como o Getaround e o RelayRides. Ele nos leva a pensar em quais situações o veículo é realmente necessário, fazendo com que cada automóvel possa ser mais útil para mais gente.

Como fazer um carro subutilizado rodar mais

Bruno Hacad e Conrado Ramires são dois jovens paulistanos que deixaram seus empregos no mercado financeiro no ano passado para colocar em prática uma ideia: como otimizar o uso dos carros que já circulam pelas cidades.  Uma reflexão interessante pois, apesar de perderem prioridade nos planos urbanísticos mais modernos, os automóveis ainda são bastante importantes em diversas situações. A questão é usá-lo na hora certa.

Um modo de incentivar esse debate é o aluguel por períodos do dia. Um modelo que ganha força nos Estados Unidos e na Europa, em que uma pessoa paga para ter um automóvel por algumas horas, tempo suficiente para levar o filho pequeno para passear em algum lugar mais distante, ou para comprar alguma coisa grande para levar para casa. E é nesse negócio que Hacad e Ramires entraram com o Pegcar.

O projeto está em desenvolvimento desde novembro do ano passado. Por meio dele, proprietários de carros podem disponibilizar para aluguel seus veículos. Do outro lado estão condutores que não têm automóvel, mas precisam de um em situações pontuais.

Equipe do Pegcar no escritório (foto: divulgação)

Equipe do Pegcar no escritório (foto: divulgação)

Com um investimento inicial de R$ 40 mil, eles botaram o projeto na rua em setembro, depois de passar meses organizando modelo de operação. O Pegcar permite que o dono do carro disponibilize seu veículo para aluguel durante os períodos que ele não pretende usar, sugere um valor a ser cobrado por hora ou dia de locação para ajudar o proprietário a determinar quanto pedirá ao locatário. Depois disso o carro é validado e catalogado para receber uma requisições.

O usuário tem doze horas para aceitar ou não o pedido de empréstimo. Uma vez aceito, o pagamento é feito no próprio site, que fica com 10% do valor da transação. Além do valor pago pelo uso do automóvel, quem aluga o carro pré-autoriza um pagamento caução de R$500 no cartão de crédito para cobrir, se necessário, o custo de uma limpeza após a devolução. Esse serviço é prestado pelo Easy Carros, um parceiro do Pegcar.

As recomendações básicas são: jamais fumar no carro e entregar e devolver o carro com o tanque cheio, que também é comumente feita pelas locadoras de carros tradicionais. Para entrar em consenso sobre as condições e acessórios do carro, locador e locatário preenchem juntos uma ficha de vistoria no momento de entrega e outra no momento da devolução. Depois disso, proprietário e locutor podem avaliar um ao outro atribuindo estrelas e fazendo um comentário livre.

O que a gente busca oferecer é um jeito mais prático, geolocalizado e acessível de quem tem carro gerar valor sobre o tempo que o veículo ficaria na garagem e de quem precisa conseguir um automóvel sob medida de acordo com a sua necessidade.

Conrado Ramires

Como a oferta e procura é organizada de acordo com a localização, a ferramenta também articula o contato entre vizinhos e a proximidade geográfica. Esse elemento é importante para tornar a transação mais segura e estimular a confiança entre as partes.

Como o Pegcar ainda está em versão de testes, há muitos ajustes para serem feitos. Os empresários trabalham na inclusão de um seguro para o carro alugado. Outro serviço em fase de desenvolvimento é a busca por veículos disponíveis com base na hora/dia desejados para empréstimo e devolução.

Se é para ter um carro, que seja bem aproveitado

A proposta do Pegcar é articular uma comunidade de compartilhamento de veículos com as pessoas que não possuem muito apego ao carro e estimam seu valor mais com base no uso que na posse. Aqui no Outra Cidade nós já discutimos como os veículos motorizados são necessários para as pessoas que moram em regiões onde as opções de transporte público são escassas e como os automóveis podem dividir a via com outros modais sem tomar conta de tudo. Outra questão que precisa ser pensada é em que condições tirar o carro da garagem é realmente necessário e ter sua circulação organizada com base no valor de uso é um bom ponto de partida para começar essa conversa.

Carros são caros, e é natural que a pessoa que compra um se sinta compelida a utilizá-lo em todas as circunstâncias para “fazer valer o investimento”. Uma dinâmica que muda com a possibilidade de alugar um veículo que não esteja em uso. Para o proprietário, saber que deixar de utilizar o automóvel pode ser lucrativo o incentiva a buscar opções para suas atividades do dia a dia para deixá-lo disponível. Para o locatário, a ideia de pegar um carro apenas por alguns momentos pode ajudar na decisão de não comprar um automóvel.

Nosso negócio é reduzir os riscos envolvidos e formar uma comunidade com um valor bem definido de priorizar o uso do automóvel. A gente não pode forçar o proprietário a liberar o carro, precisa de um consenso.

Bruno Hacad

Mas essa é uma questão ainda incipiente. Atualmente, o Pegcar está em processo de captação de recursos e possui e três pessoas envolvidas diretamente com o projeto, contando com os idealizadores. O procedimento de começar em uma região específica foi pensado para oferecer o máximo de praticidade possível nessa etapa de testes iniciais. A ferramenta possui 500 usuários e 50 carros cadastrados, proporção essa de locadores e locatários que Bruno e Conrado desejam manter.