O que: São Paulo é um lugar sisudo conhecido pela sua cinzenta efervescência urbana, mas nem tudo é frenesi e concreto na maior cidade do Brasil. Pensando nisso, uma dupla de arquitetos desenvolveu, levantou fundos e instalou duas mesas de ping pong públicas para estimular o espírito competitivo paulistano a se manifestar em partidas abertas e sem compromisso.

Sacadas e rebotes

Tênis de mesa é um esporte altamente competitivo, que exige preparo físico e mental, técnica e muitos anos de dedicação. Ping pong é diferente: é a versão recreativa do esporte olímpico, que permite que qualquer pessoa jogue sem compromisso, misturando crianças e adultos, homens e mulheres, que necessita de pouco espaço e tem baixo risco de acidentes. A maior dificuldade é encontrar uma mesa disponível.

VEJA TAMBÉM: Centros de excelência são essenciais para integrar a periferia

Em alguns lugares do mundo, mesas estimulavam a convivência em praças e parques. Foi o que os paulistanos Dimitre Gallego e Luciana Antunes viram quando estiveram em Barcelona. Ao final da viagem, começaram a correr atrás de uma maneira de viabilizar a instalação desses equipamentos em São Paulo.

Os arquitetos paulistanos Dimitre e Luciana jogando uma partida (foto: Divulgação)

O primeiro passo foi começar a pensar o desenho da mesa, que precisava ser adaptada para resistir ao ar livre. A solução encontrada foi uma totalmente soldada em aço com tratamento anticorrosão, construída em uma única peça pré-fabricada. Uma versão para testes, feita de madeira, foi levada em alguns lugares para testar sua ergonomia e a ver reação das pessoas.

Esse protótipo foi levado para vários lugares, entre eles o Largo da Batata (zona oeste da capital paulista). A ideia era promover a campanha de financiamento coletivo que foi lançada para bancar a construção da primeira mesa.  Conversas com o grupo “A Batata precisa de você” e com as pessoas que frequentavam o local também fizeram parte do processo.

O Ping Point arrecadou mais de R$ 8 mil entre os seus 87 apoiadores durante 55 dias de campanha no Catarse para viabilizar a construção e instalação de uma mesa de ping pong no Largo da Batata. Desse valor, 66% foi para a fabricação, 9% para o transporte (da fábrica ao Largo da Batata), 12% para brindes (bolinhas, raquetes, adesivos, cartaz e boné) e 13% para o Catarse.

Nossa estratégia desde o início foi divulgar ao máximo nossa campanha e isso foi possível graças ao apoio de diversas pessoas que repassaram e divulgaram nossa campanha. Foram quase 90 pessoas que contribuíram em dinheiro, mas certamente tivemos outras dezenas de pessoas que nos apoiaram na criação e andamento da campanha.

Dimitre Gallego

A dupla fez uma reunião com a subprefeitura de Pinheiros para apresentar o projeto. Conseguiram boa aceitação, mas nenhum apoio financeiro. Mesmo assim, protocolaram uma carta para doação da mesa e esperaram ela ser aprovada para discutir em que ponto do Largo da Batata ela seria instalada. Dimitre conta que eles tiveram que lidar com bastante burocracia e o processo demorou, mas acredita que a instalação da próxima mesa será mais fácil.

MAIS ESPORTE: Pacaembu deve servir a quem precisa dele, não virar arena moderna

Outra mesa fixa foi instalada no Largo São Francisco, inicialmente para permanecer durante três meses como parte do projeto Centro Aberto, realizado pela administração municipal. A proposta era reunir várias intervenções temporárias por um período e medir o impacto resultante no espaço público. A aceitação foi tão grande que a mesa já está lá há um ano.

Um levantamento feito pelo Cidade Ativa, que monitorou o uso dos equipamentos públicos que foram testados durante o Centro Aberto, destaca a mesa de ping pong instalada no Largo São Francisco durante fim de semana de 11 e 12 de outubro (pegando o Dia das Crianças) de 2014 como um sucesso. 15% das pessoas que participaram do levantamento responderam que jogar ping pong era o que elas mais estavam gostando de fazer no momento.

Planejando as jogadas

Feita para ter uma vida longa em ambientes externos, a mesa é a prova de intempéries e vandalismo. A manutenção é fácil e ela foi pensada para oferecer uma experiência de jogo bem próxima dos padrões estipulados pelo tênis de mesa, a versão mais “oficial” do ping pong. O desenho é patenteado e a dupla se dispõe a produzir mesas para quem tiver interesse em espalhar outras por aí.

ping_point_mesa

Crianças disputando uma partida de ping pong na mesa pública (foto: divulgação)

Eles contam já foram procurados por pessoas que querem fazer financiamento coletivo para levar a mesa para outras cidades, entre elas um grupo do Rio de Janeiro. Eles disponibilizam a página do Ping Point no Catarse para iniciativas como essa levantarem fundos e as mesas também estão a venda para empresas e instituições.

Costumamos visitar os Largos da Batata e São Francisco frequentemente para conversar com as pessoas, verificar a aceitação e ouvir os depoimentos delas. Felizmente a única reclamação que temos é que possuímos poucas mesas instaladas.

Dimitri Galego

O Ping Point também busca parceiros para levar as mesas itinerantes para eventos e expandir o projeto. Ele foi uma das atrações da Virada Sustentável, por exemplo, e estão conversando com possíveis parceiros para espalhar mais mesas para que mais bolinhas possam pingar por aí. Para quem quiser participar de uma partida, as mesas temporárias estarão nesse feriado no Conexão Cultural Sustentabilidade.

(Rua)³ ou Rua ao Cubo/ 1º Conexão Cultural Sustentabilidade

  • Onde: Alameda Rio Claro (altura do nº 1330 da Av. Paulista, em frente à Fiesp)
  • Quando: 8 a 14, das 9h às 17h
  • Classificação livre
  • Gratuito