Por que essas casas em Orlando são o ápice da cultura americana de vida em subúrbios isolados

Os bairros são extremamente planejados e até bonitos. Mas foram planejados esquecendo do entorno, da integração com a cidade, como uma prefeitura permitiu tal coisa? Aliás, estes lagos são artificiais? É bonito, mas nada ambiental construir tão próximo dos lagos assim, caso forem naturais.
Pior que no Brasil, estão começando a fazer bairros e condomínios assim.

Eu tinha escrito isso no outro post: no Brasil, condomínios como os planejados da Alphaville tem perfil similar.

Entendo que isso tem seu lado ruim, mas ao mesmo tempo quem permitiu e comprou este tipo de imóvel, é porque buscava este perfil de habitação. Imagina-se que por ser um condomínio fechado, há muito mais segurança e comodidade (subentendido).

A pessoa que mora em lugares assim, simplesmente quer ir para o trabalho (ou outros locais, incluindo o vizinho de trás – caso ele tenha amizade com o mesmo) com seu veículo. Ele nem pensa em bicicleta como transporte – é um lazer ou atividade física, e olha lá.

Bairros (e moradores) assim não querem integração com a cidade. Querem só viver suas vidas.

E não é uma falsa sensação de segurança. O fato de ser um local isolado inibe que qualquer um acesse o bairro sem controle. A pessoa pode até pular o muro, mas o fato de pular o muro já o coloca como suspeita. Se fosse uma falsa sensação de segurança, as pessoas já teriam desistido de morar nestes lugares e teriam ido parar em um apartamento ou construido novas formas de bloqueio de externos – talvez ao ponto de construir um encastelamento.

Não se “converte” pessoas assim para entenderem a cidade e o urbanismo.

Em tempos: há bairros também que tem este perfil, mesmo sem ser feito por incorporadoras ou planejadores. Seja por questões naturais (um rio ou outra atividade natural) ou artificiais (linha de trem, etc…), bairros ficam separados e com acesso difícil e distante.

Perfeito, Vagner! Como tudo no urbanismo, toda escolha reflete em resultados positivos e negativos. É muito difícil não haver algum tipo de reflexo negativo em algum tipo de característica. Nós lidamos com uma escala que impossibilita a perfeição e unanimidade.

E o autor do texto parte de uma afirmação equivocada, como se esse modelo urbano se resumisse a uma criação imobiliária. Isso é falso. Há uma grande gama de arquitetos, urbanistas, engenheiros e intelectuais das mais diversas áreas que refletiram nesse modelo de habitação. Desde o arquiteto e presidente Thomas Jefferson a até Frank Lloyd Wright, Ebenezer Howard e Clarance Perry. Em especial esse último, com o modelo de unidades de vizinhança que, nada mais é, do que a aplicação pura desse layout criticado.

Como você mesmo disse, não se “converte” as pessoas através da imposição. Lógico que o questionamento faz parte da discussão nossa como profissional, mas não podemos simplesmente descartar tudo aquilo que não compreende essa cultura coletivista (na minha opinião, forçada e artificial) que hoje impera no urbanismo. Talvez estejamos cometendo o mesmo erro de sempre: o radicalismo, principalmente ao achar que urbanismo é uma ciência exata com resultados práticos automáticos. Isso é utopia.

E mais: não podemos tratar o “mercado” como nosso inimigo. Esse é o maior erro de todos e que, como já havia dito anteriormente, nos isola do mundo. Temos que trabalhar a favor do mercado. O mercado não é um ente maligno que só gosta de porcaria e coisas baratas. Bons profissionais trazem sim boas soluções mercadológicas. O mercado nos possibilita a execução de coisas que nós jamais conseguiríamos implantar apenas com teorias e discursos.

Os EUA de fato trabalham a favor do mercado e, quer queiram ou não, isso trouxe uma qualidade de vida absolutamente positiva (pelo menos comparando ao resto do mundo) a eles. Se é bonito ou não, pouco importa. O fato é que o mercado imobiliário deles é relativamente barato, acessível, suas casas são muito bem estruturadas (possuem A/C, calefação, etc). Os mais ricos moram confortáveis residências em gated communities, mas os mais humildes também viver do mesmo jeito, ainda que hajam contrastes. Lógico que nem sempre é a arquitetura que nos agrada, mas até nisso deve-se levar em consideração os aspectos históricos e culturais de sua população.

Só por curiosidade, as casas nesse condomínio da imagem variam entre U$200 a 400 mil. Uma casa com 5 quartos custando U$279 mil. O que nós, com R$300 mil reais, conseguimos comprar em nossas cidades grandes?

Discordo de ti e não sou perfeito, muito menos dei uma resposta perfeita.

Eu falei que não se “converte” por via de fato tentar respeitar pontos de vista contrários. Porém, subentendo também que cada cultura tem reflexão de suas vidas.

No entanto, uma coisa que tem que se compreender é que atividade coletiva é diferente de atividade de mercado. E quando se ataca o mercado, se ataca as visões cegas que muitos que atuam na área praticam.

O “mercado” não é inimigo, no entanto pode agir como um. Esse é o ponto. Partindo do pressuposto que o mercado é os agentes de compra e venda, e que vão fazer de tudo para gerar um lucro para os principais atuadores, prejudicando consumidores, logo, sabemos que o que pode ser ofertado no final é prejudicial aos consumidores. Depende de como cada cultura atua e entende o “mercado”.

Nos Estados Unidos, há espaço para habitações como as descritas. Para bairros distantes, com largas ruas e espaços fechados. A cultura do país em partes também contribui para que tenha habitações a custos razoáveis. No entanto, tais custos são altos também em relação aos custos brasileiros, sendo que lá não tem tantos impostos, mas tem em compensação custos de manutenção de vida (saúde, seguro, etc…) à parte. E a falta de transporte publico também é algo que encarece o dia-a-dia da população americana.

No Brasil, estamos concentrados em regiões originalmente colonizadas (basta estudar os mapas das atividades iniciais de extração e exploração no país. mapas ferroviários também são bons indicativos), e dificilmente saímos destas áreas, apenas só nos expandido. Há também uma mão mais forte do governo, que regula a questão habitacional até por segurança, já que muitas áreas no país podem ter algum risco caso alguém venha a habitar. O conceito de coletividade também aqui é diferente, subentendendo que apesar de cada indivíduo ser livre, ao mesmo tempo é responsável pelas atitudes que toma como parte desta sociedade.

Quase tudo pode ser ofertado pelo governo – inclusive habitações. O custo de vida é um pouco mais baixo pois há serviços públicos com custos embutidos nos impostos. Saúde, Educação, etc… Mais o transporte público.

No entanto, a oferta de habitações no país é extremamente problemática, o que contribui para atividades negativas do “mercado”. A verticalização de bairros de alta demanda é um exemplo. Bairros originalmente “horizontais”, confortáveis e até tradicionais e históricos, hoje tem inúmeras vagas de habitações verticais. Cria uma densidade maior no bairro, que é benéfico à movimentação e aos serviços, mas é maléfico no conforto, pois gera trânsito, desconfortos (atritos entre vizinhos, problemas devidos a verticalização como circulação de ar, “efeito ilha de calor”, etc) e desvalorização futura (devido ao maior número de vagas, a pessoa perde dinheiro no futuro).

A visão no que entendo que o Outra Cidade trabalha sobre habitação é que isso é parte de políticas habitacionais, de políticas de conforto do cidadão. Não mercado per si.

Esse é o ponto.

Se o mercado atua, muitas vezes atua de forma cega. Ignora as outras necessidade de conforto de uma população, deixando estas à cargo dos governos ou dos próprios moradores. Não vira.

Mas parte das perdas vem justamente de um mercado que age como inimigo. Quando se põe o valor de automóvel de forma a compensar mais que o transporte público. Quando se pega áreas antes horizontais e depois verticalizam. Quando transformam bairros antes históricos em bairros mais “desconfortáveis”, parte da culpa é do mercado.

Se o mercado é o que regula a entrada de pessoas em um lugar, isso gera distorções artificiais, gentrificação (ajuste dos locais de vivencia conforme a cultura local). Se não há condições de comprar imóveis em certos lugares, a culpa é do mercado, que cria bolhas, limitações artificiais. Não é a toa que por aqui existem movimentos que defendem a habitação popular (apesar de serem movimentos duvidosos e também as vezes massa de manobra).

Parte do exemplo americano não pode ser aplicado aqui. Inclusive de incorporação imobiliária. Um fator extra é pensar que “se você compra ou conquista algo, é seu”. Isso cria distorções gigantes, além de gerar os problemas habitacionais que tem em qualquer lugar do mundo.

A sua visão é focada no “Melhor dos Estados Unidos”, mas é parte e tu tem também um viés nisso, basta notar no seu discurso.

No Brasil, enxergar como se tudo dos Estados Unidos fosse dar certo, é tentar repetir o que vem se tentando desde o início da República: pegar exemplos americanos para aplicar-se aqui. Lá é outra cultura, outra vivencia. Aqui temos nossos pontos para mudar e melhorar, principalmente em habitação e mercado habitacional.

Estamos mais para uma Itália, esta que vive de viletas razoavelmente distantes entre si, separadas por pontos naturais montanhosos, do que para os Estados Unidos, que é mezzo uma planice.

Por isso que eu acho que Lucio Costa foi extraordinário na urbanização de Brasília usando pilotis nos prédios onde os espaços abaixo destes continuaram a ser espaços públicos livres de cercas e muros. Claro que hoje existem alguns problemas porque infelizmente é parte da cultura brasileira avacalhar e quebrar as regras. Eu vivo Rio de Janeiro e fico frustrado com a falta de espaço e organização dessa cidade. É comum aqui dar voltas e voltas para chegar em um lugar perto ou precisar de viajar 19km para chegar a um lugar que esta geograficamente apenas a 7km de distância. Ah claro. Também dizem que Brasília foi planejada para carros. Puro clichê e estigma. Esta na descrição do plano tudo o que o mestre desejava, segunda a sua concepção o trânsito de carros e pedestre foi separado a fim de garantir maior comodidade a ambos. Eu acredito que não existe modelo melhor para se desenhar um plano urbanístico que não seja nos conceitos do modernismo. Toda aquela teoria sobre a morte do modernismo com a implosão de Pruitt-Igoe não passou de especulação política e ideológica de norte-americano.

Nossa, mano. Pare de ser burro (ou fanático), olhe o absurdo que isso é. Vai falar que nesse caso, não é porque tudo foi planejado APENAS de acordo com o mercado? Ninguém falou em mercado ser malvadão, apenas que não pode ser a única coisa a ser levada em conta com relação a planejamento urbano. Vocês fanáticos de direita são chatos demais, pqp. Não podem ver uma critica e vem com esse MIMIMI todo de “estão falando que o capitalismo é malvadãooo, comuna desgraçado!”

Isso na teoria, na prática Brasília é pior do que esses subúrbios americanos, todas as coisas são extremamente longes e todas as cidades satélites ou são um monte de shoppings (águas claras) ou são cortiços violentos (ceilândia)

No brasil construímos passarelas para solucionar este problema… (só que não)