Carolina Padilha estava incomodada com o congestionamento que se formava em frente à escola onde trabalha, no bairro paulistano de Santa Cecília, nos horários de entrada e saída de alunos.  Foi aí que ela começou a pesquisar sobre grupos de pedibus e decidiu que era isso o que queria fazer: ir em grupo com as crianças da casa delas até a escola. Nascia o Carona a Pé.

O Colégio Equipe, onde Carolina é professora, forneceu os endereços dos alunos e ela descobriu que havia 17 crianças que moravam ao longo do caminho que ela fazia todos os dias. A primeira mãe com quem ela conversou sobre sua ideia não só gostou, como se ofereceu para ajudar, acompanhando os alunos. O primeiro trajeto foi definido e a caminhada até o colégio começou com um grupo pequeno para servir como teste em junho do ano passado.

Durante as férias de julho, a ideia foi aprimorada com a formulação de um contrato para os pais das crianças participantes do Carona a Pé, feito com a ajuda de uma advogada que também era mãe de um aluno. “Eu vi uma criança dizer pra outra que eu gostava mais dela, porque ela vinha comigo pra escola. Aí sugeri fazer uma reunião com os alunos para explicar do que se tratava”, conta Carolina. As crianças sugeriram novas rotas e outros pais e professores que moravam nos arredores e poderiam ser acompanhantes.

Alunos que moravam em outros bairros também quiseram participar, indo de carro até encontrar o grupo pelo caminho. “A escola apoiou muito mas nunca quis assumir como um projeto dela, é algo feito pelos adultos e das crianças daquela comunidade escolar”, diz Carolina. Um mãe de aluno fez o site, outra o logotipo e irmã da professora, que estudou moda, fez a faixa para identificar as crianças. A faixa de identificação usada durante a caminhada é vendida com o Kit Carona a Pé para os pais das crianças participantes, que contém informações sobre o trajeto e orientações, entre outras coisas.

Atualmente 80 crianças participam, sendo que 30% são do ensino fundamental I, ou seja, têm entre 6 e 10 anos e são alunos de Carolina. A idade dos alunos participantes varia entre 4 e 12 anos. Os mais velhos, que não queriam usar a mesma faixa das crianças, ganharam outra, de cor diferente, e responsabilidade extra como monitores. Nos grupos maiores, como o de dez crianças que percorrem quatro quadras, há dois adultos acompanhando (um deles se encarrega, por exemplo, de parar o trânsito para todos conseguirem passar mesmo quando o tempo semafórico para pedestres é muito pequeno). O trajeto mais longo do Carona a Pé tem 1.9 quilômetros e é feito uma vez por semana, assim como há outros que são feitos de segunda a sexta durante todo o período letivo.

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Os grupos normalmente andam em duplas de mãos dadas, a não ser em dias de chuva, quando formam fila indiana para liberar espaços para outros pedestres.  “Tem um cuidado, que é o compromisso em participar entendendo que esse é um jeito de ir para escola tem uma postura na van, outra no carro e outra a pé. Não é um passeio, é circulação”. Outras escolas procuraram Carolina para replicar a ideia e duas delas estão bem perto de começar os percursos em grupo. A professora, que acompanhou a primeira caminhada de cada uma das rotas e continua a fazer a sua, está planejando uma reunião com os colégios interessados no Carona a Pé e busca apoio para poder levar o projeto também para as escolas públicas.