O Copan é quase uma mini-cidade de 5 mil habitantes, e seu prefeito é Affonso de Oliveira, ou “Seu Affonso”. O síndico do edifício é tido por muitos moradores como o responsável principal pela boa fase do prédio, que resolveu vários de seus problemas internos (tanto de infraestrutura quanto de uso) nos 23 anos de sua gestão. No entanto, ele também leva a fama de diretor de colégio interno, por seu apego à organização, pela regra e pela segurança. Algo que ele próprio faz questão de mostrar, ao me apresentar como funciona o sistema de segurança do prédio, inclusive com um monitor que mostra um funcionário de uma das centrais de vigilância olhando para outros monitores.

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Seu Affonso mora no Copan desde 1963, antes mesmo da inauguração oficial, em 1966 (até então, apenas alguns blocos haviam sido concluídos). Ele conhece quase todo mundo e tem controle sobre tudo o que ocorre nos 32 andares do edifício. Em uma hora, fui apresentada a uma conselheira do condomínio, uma arquiteta, dois funcionários e à esposa do síndico. As pilhas de papéis em sua mesa não impedem que ela esteja sempre cercada de pessoas, algumas sendo atendidas outras ajudando a atender quem procura pelo “prefeito” do prédio. Quando se candidatou ao cargo, em 1993, Affonso de Oliveira tinha um plano com metas a curto, médio e longo prazo para o Copan. Atualmente em andamento, a restauração da fachada do prédio era seu objetivo mais ambicioso. Ele considera a obra como o fechamento de um ciclo. Algo que, segundo ele próprio, está próximo.

Como chegou ao Copan

“Moro aqui desde 1963, tinha 24 anos. Eram poucos os moradores só estavam habilitados os blocos A, B, C, todos eles parcialmente. Eu acredito que devia ter uns 200, 300 moradores. Paulatinamente foram inaugurando os outros blocos, o que não aconteceu com a galeria. Quis vir para cá porque era mais perto da FGV, onde eu estudava. Trabalhei na Assembleia Legislativa, Palácio do Governo e assessor no governo federal. Fui também o que chamam hoje de subprefeito da Penha durante o governo Jânio Quadros. Foi por pouco tempo, não consegui me adaptar porque havia interesses políticos e eu não sei trabalhar dessa forma. Você perde um pouco a liberdade de decisão, há muita influência.”

A vida de síndico

Affonso de Oliveira, síndico do Copan em sua sala (Camila Montagner/Outra Cidade)

“Eu não decidi me candidatar, o que aconteceu foi que eu tentei durante duas assembleias modificar as coisas aqui. A qualidade do prédio estava caindo: problemas mecânicos nos elevadores, manutenção na parte hidráulica e elétrica. Na terceira assembleia que eu frequentei, fui chamado para fazer a triagem das procurações para dar poder de voto para as pessoas. Os dois grupos que disputavam a eleição entenderam que eu era uma pessoa neutra e me chamaram para presidir a assembleia. A administração que aqui perdeu e a nova me convidou para presidir as assembleias. O novo síndico, que dava início à recuperação do prédio, renunciou depois de um ano. E, pelo fato de eu presidir as assembleias e participar de uma forma ou outra como colaborador, tive o nome lembrado para o cargo. Apresentei um projeto para recuperação do prédio e disse que ficaria só dois anos, um mandato. Isso foi em 1993. No fim, esse mandato tem sido renovado. Eu sempre deixo o cargo à disposição do conselho e da comunidade quando vai começar o período eleitoral.”

O Copan e o Centro

“É uma história que se liga muito à cidade, ao próprio centro da cidade, a especulação imobiliária começa lá na Sé. Da Sé, vem para a República, da República para a Paulista, da Paulista à Faria Lima e hoje à Berrini. À medida que esses interesses vão se deslocando, deixam para trás um interesse menor. Como o Centro passa a ser desvalorizado, a frequência muda, os investimentos também mudam. Consequentemente, os prédios do centro da cidade começaram a ser desvalorizados. Modifica muito a sua ocupação, isso reflete também no próprio condomínio e no aluguel, e as coisas começam a se desagregar. O Copan é um reflexo do que aconteceu no Centro. Desvalorizou, os apartamentos começam a ficar vazios então o aluguel baixa, baixar a exigência com relação ao uso e isso traz problemas.”

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O trabalho de síndico

“Muita gente quer atribuir a mim a recuperação do prédio, não é bem isso. É uma equipe, eu faço parte dessa equipe.  Eu tenho uma equipe excelente, são funcionários dedicados, gostam do prédio e tenho um conselho excepcional que está sempre aqui prestando, apoio, esforço, soluções, etc. As pessoas são excepcionais. Mas ainda falta as pessoas se representarem. Num prédio como esse, com 1160 apartamentos, 221 garagens e 82 lojas, a melhor presença que teve até hoje foram 154 presentes em assembleia de um total de 993 proprietários.”

Recuperação

“Em curto prazo, o primeiro objetivo era resolver o problema de segurança do prédio. Tínhamos problemas sociais sérios aqui dentro, conseguimos contorná-los. O segundo, mais grave: dívidas pendentes de água, luz e elevadores tinham que ser liquidadas. O consumo de água era algo muito sério. Havia uma perda muito grande de água ao longo do processo de alimentação das unidades e nas casas de bomba. Na época, o prédio não estava completamente ocupado por moradores e gastava um milhão de litros por dia. Hoje, gastamos 360 mil. Em médio prazo, era preciso fazer a recuperação interna da parte elétrica, hidráulica e pintura. E, em longo prazo, a recuperação externa. É a fase em que estamos agora, com restauração da fachada e da galeria. Tentamos isso várias vezes, sem sucesso. Agora, com recursos próprios, vamos dar o pontapé inicial. Começou em 2015 e levará mais três anos, no mínimo, para concluir. São mais de 46 mil metros quadrados de fachada. O Kassab [Gilberto Kassab, prefeito de São Paulo entre 2006 e 2013] ajudou. Ele alterou o artigo 50 da Lei Cidade Limpa, beneficiando os prédios tombados ou em processo de tombamento para permitir o uso de até 10% da fachada para publicidade. Possibilita a arrecadação de recursos para obras.”

Ocupação

“Temos 84 apartamentos vazios. Houve uma queda muito grande de março do ano passado para cá. Em média, tínhamos 8, 9 unidades vazias. Agora já chegou a, dada a situação do país, as pessoas estão procurando a periferia porque os aluguéis são mais baratos, no fim o custo fica o mesmo porque tem o gasto de transporte é só questão de usar com inteligência os recursos disponíveis. Tenho também uma grande preocupação com o Airbnb, externei nas três últimas assembleias. Veja bem, o aluguel pela lei do inquilinato é de 30 meses. Quando alguém tenta alugar uma unidade, você tem todas as informações possíveis. Nesse tipo de uso, o fator segurança desaparece. Não sei quem é a pessoa, de onde ela veio. Não sei se a vigilância dos portos e aeroportos comportam um levantamento maior de cada pessoa que chega. A grande preocupação é terrorismo. Temos uma Olimpíada acontecendo, pessoas que estão chegando, poucos dias atrás 2 pessoas foram presas por terem ligação com o terrorismo aqui no Brasil. Essa é uma grande preocupação. ”

Segurança

Na sala da administração, tela exibe imagem de câmera em uma das “centrais” do Copan (Camila Montagner/Outra Cidade)

“Não posso contar quantas câmeras de vigilância temos. Nosso sistema é tão eficiente que, se alguém espirra no corredor, eu falo saúde daqui. Ou seja, temos as câmeras necessárias, precisamos ampliar ainda mais e vamos ampliar sempre. Cada portaria tem sua unidade/terminal terminal e uma pessoa com acesso ao perímetro dele. Se você somarmos todos os perímetros das portarias, há vigilância 24 horas em todo o prédio. O total de pessoas em vigilância chega a dez. Por exemplo, multei uma pessoa que veio fazer uma visita a um morador e ele veio de bicicleta. Nós autorizamos o acesso dele à unidade por interfone e o morador autorizou que a bicicleta fosse depositada dentro da residência. Só que ele não sabia que tinha câmeras e ao longo do percurso ele tirou a camisa e andou de bicicleta dentro do prédio. Ganhou um multa o morador que autorizou a entrada.”

Futuro e adeus

“Um grande sonho é instalar um museu do Copan, que espero que tenha a participação da Fundação Oscar Niemayer. Temos um acervo muito grande, temos sido assunto para pesquisa. Recebemos 7 mil visitantes por ano e são de 54 países. Mas não pretendo continuar como síndico, estou velhinho, já tenho 80 anos está na hora de eu sair. Está na hora de uma pessoa mais jovem assumir, com outro perfil. Espero que seja mais dinâmico, tenha ideias mais inovadoras. Tecnologia, já que a tendência de todos os prédios é se tornar um  inteligente e verde. Já estou um pouco ultrapassado. Por mais que eu estude, me dedique, não tenho mais o pique de uma pessoa mais jovem. Eu sinto amor e paixão, mas a paixão é um negócio racional. Eu adoro esse prédio, vim moço pra cá moro aqui há 53 anos. Então eu tenho uma ligação com o prédio. Espero depois de eu morrer que eu não vire um fantasma aqui dentro, arrastando correntes por aí.”