O que é? O Outra Cidade gosta de mapas. Já passaram por aqui mapeamentos de buracos, de calçadas com problemas e dos investimentos públicos na cidade. Para não perder o hábito, aqui você fica sabendo como um mapa físico que pode ser usado para sinalizar nas próprias ruas os lugares que estão a uma caminhada de distância sem deixar de ser colaborativo.
Encontrando um caminho
Sinalização para pedestres abundante pela cidade, a ponto de facilitar muito a vida de um estudante estrangeeiro que passava apenas uma temporada no exterior e passava boa parte do dia batendo pé. Foi o que Lucas Neumann sentiu quando esteve em Londres, um conceito tão interessante que ele colocou em sua bagagem quando retornou a São Paulo. O que era uma ideia se transformou em projeto de faculdade e agora está pronto para tomar as ruas.
O Mapa Daqui foi desenvolvido no curso de graduação em Design da Universidade de São Paulo como uma sinalização colaborativa para pedestres. Nesse projeto, mapas de qualquer região da cidade são disponibilizados em um formato pronto para imprimir e espalhar por aí. Uma vez que o mapa está na rua, qualquer pessoa com uma caneta pode sugerir um local próximo e indicar as direções para quem passar por ali depois.
A ideia de Lucas é que as pessoas pudessem fazer seus próprios mapas indicando os lugares que valem a visita nos bairros onde elas costumam circular. Bastaria escolher uma região em um site, baixar um arquivo em que ele fique dentro do modelo do Mapa Daqui e levar para as ruas. Tudo para São Paulo se tornar um lugar mais humano e melhor para quem anda a pé.
O site no qual a região a ser mapeada pode ser selecionada foi lançado durante o festival CoCidade. Na ocasião, era possível imprimir o mapa por lá mesmo, mas ele já está aberto a qualquer um com computador com acesso a internet e uma impressora.
O único formato disponível por enquanto é o lambe-lambe dividido em três folhas que juntas tem 30 centímetros de largura por 60 de altura. A partir do próximo mês, a sinalização também será liberada nas formas de banner para postes de iluminação e a placa de PVC para estrutura mais finas e/ou paredes de estabelecimentos comerciais. Segundo Lucas, a impressão de um banner custa, em média, R$ 20 e de uma placa, R$ 25.
Depois de estudar as iniciativas colaborativas que já estavam em andamento nos espaços públicos da capital paulista, ele começou a testar quais materiais resistiam melhor ao ar livre. Um lambe-lambe, por exemplo, resiste de um a dois meses. Isso se ninguém colar algo sobre ele, afinal, os mapas foram feitos para fixar nos postes e enfrentam a concorrência de outros anúncios, lambe-lambes e afins. Cada centímetro é disputadíssimo.
Há um contrato social de que o poste é por definição um lugar para anúncios. A cada semana surge algo novo.
Lucas Neumann
A sugestão dada por Lucas é escolher os postes com menos cartazes colados para fixar o seu mapa e também não fazer com os outros aquilo que não gostaria que fizessem com você, ou seja, botar a sinalização em cima de algo que já estava lá.
Andando de mãos dadas
Para programar o site, o estudante contou com a ajuda do amigo Lucas Pirola. Entre as atualizações previstas para a página até o final deste ano está um mapeamento digital indicando onde estão os impressos. Também será aberto um canal para quem quiser encomendar um kit para não precisar correr atrás de fazer a impressão por conta própria.
O plano de Lucas (não o Pirola, mas o Neumann) é sustentar o projeto com o dinheiro da encomenda dos kits e também por meio de parcerias com comerciantes. Como o site possui um filtro para eliminar a poluição visual e deixar que apenas os pontos marcados pelo usuário se sobressaiam, os estabelecimentos da região selecionada não aparecem. A ideia é que os comerciantes parceiros passem a aparecer nas sinalizações do Mapa Daqui. Outra possibilidade é fixar as placas, que podem atrapalhar o fluxo da calçada se colocadas em passagens estreitas, nas paredes desses locais.
Neumann defende que a intenção é ajudar quem anda a pé tornando a cidade mais caminhável, e não poluir visualmente o ambiente. Por esse motivo, uma consulta foi enviada para a prefeitura de São Paulo. Tudo para que o projeto não corra o risco de cair no Cidade Limpa e retirado do espaço público. Segundo a Comissão de Proteção à Paisagem Urbana da Prefeitura de São Paulo, o Mapa Daqui se enquadra em intervenção artística e/ou adição de elementos no espaço público, ou seja, uma categoria prevista na legislação. Isso não quer dizer necessariamente que os mapas terão que ser retirados e proibidos, e sim que eles precisam de uma autorização da Secretaria de Desenvolvimento Urbano, na qual funciona a CPPU.
De qualquer maneira, a lei Cidade Limpa é municipal, ou seja, ainda que o projeto seja impedido de ganhar as ruas de São Paulo, ele pode ser explorado em outros municípios. A falta de sinalização para pedestres é um problema enfrentado por muitas outras cidades, que podem se tirar proveito da iniciativa espalhando por suas ruas indicações de pedestres para pedestres.