Por que vamos falar disso? Camila Montagner explica porque em São Paulo não é mais necessário ter carro para ocupar uma vaga de estacionamento. Isso porque lugares antes reservados para carros estão ganhando novos usos ao abrigar parklets e pocket parks. São iniciativas que reorganizam esses espaços, trazendo-os para uma escala mais humana.
O assunto
Os parklets são compactos – ocupam duas vagas de estacionamento na rua – e qualquer pessoa pode ser proponente/mantenedor da instalação desde que siga as normas e obtenha a autorização da prefeitura. No caso do pocket park, a área utilizada fica no nível da calçada e pode ser pública ou privada. A praça de convivência da Oscar Freire, por exemplo, ocupa parte de uma rampa de estacionamento privada. São 200 m² cercados de construções que abrigam mesinhas e bancos para receber os pedestres.
Pois bem. No final de 2014, um estacionamento privado de 1000 m² que se estende desde a rua Augusta até a Frei Caneca também desativou as cancelas para virar um espaço de convivência e muita, muita comilança. O Urbanoide é hoje uma praça de alimentação ao ar livre, onde a comida é preparada em trailers, barraquinhas, food trucks, tuk-tuks, food bikes e o que mais alguém inventar.
Para quem quer se aventurar, tem arroz frito com abacaxi, vinhos argentinos e bolo sueco. Se você prefere não se arriscar, também há comida de rua “de raiz” – os bons e velhos conhecidos churros, hambúrguer, acarajé e cachorro-quente.
Como é o calçadão?
Durante o dia, o clima é de feira: o cara das empanadas arruma dinheiro trocado para voltar pro cliente do furgão de fish and chips. O atendente do truck Lox Deli avisa que a responsável pelo trailer em frente foi fumar um cigarro. O vendedor de cerveja aproveita o movimento tranquilo para sentar nos banquinhos ao redor da sua barraquinha e dar uma conferida no celular.
As pessoas sobem e descem a rampa carregando seus pratos num embalo meio desajeitado. Jovens, em sua maioria, caminham preguiçosos, escolhem sem pressa, comem com vontade. O tempo ruim faz mais gente procurar sentar na área coberta que, ainda assim, não está lotada na tarde fria de domingo.
Na noite, parte do movimento intenso da Augusta é desviado para o food park, desaglomerando um pouco o fluxo. É uma nova via que se abre, afinal. Os expositores que servem cervejas, vinhos e drinks concentram o público que se reúne ali para o happy hour ou, ainda, fazer uma última parada antes de outro programa. Tem música tocando desde a abertura, sempre ao meio-dia, de terça a domingo.
Apesar de ser um espaço voltado para o consumo, a entrada é gratuita e ninguém te incomoda se você não estiver lá para comer ou beber. O que antes era um lugar para deixar e pegar o carro, agora é um lugar onde estar é permitido. Poderia ser melhor, poderia ser público, poderia ter mais verde. Mas já é um muro a menos.
A linha do tempo do Google
Tempos difíceis em 2010. O endereço na Augusta era assim: um muro, com uma placa de venda.
Quatro anos depois, o muro grafitado e com um toque de filosofia de lambe-lambe.
Em janeiro já dava para ver as barraquinhas na rua Augusta, que ganhou uma entrada.
Calçadão Urbanoide:
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