O que é? Cidades da região de Gaspesie, sul do Canadá, estão fazendo negócios usando a sua própria moeda, o demi. Moedas de circulação baseada em cidades – e não em países – não são exatamente uma novidade, mas os problemas nas macrozonas econômicas como a do euro indicam que é um bom momento para pensar em alternativas.
Pequenas redes produtivas e consumo local
Demi, em francês, significa “metade” e a moeda que carrega esse nome vale isso: metade do dólar canadense. A moeda só é usada para fechar negócios em cidades como Carleton-sur-Mer e Saint-Siméon, no estado de Quebec. Mas é um mecanismo interno. O demi não tem reconhecimento governamental e o Banco do Canadá pode se recusar a reembolsar qualquer um que tenha “alterado ou degradado a moeda nacional de forma sistemática”.
Apesar da falta de um valor oficial, a segurança de fazer transações em uma moeda local foi decisiva para a criação do demi. Como só pode ser gasto em uma determinada área, o uso da moeda local incentiva os moradores a manter o dinheiro circulando localmente. Não foi uma ideia inédita: o demi foi inspirado pelo SoNantes, que circula em Nantes, oeste da França.
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O processo de adoção de uma moeda local na cidade francesa começou em 2007. Demorou cinco anos até que o projeto fosse implementado pelas autoridades municipais e a SoNantes começasse a ser usada. O objetivo era trazer as transações comerciais de volta para o território e para a economia “real”. Não existem notas de SoNantes: todos os negócios fechados com base no sistema econômico da cidade são efetuadas por meio do uso de cartões. A moeda não pode ser acumulada ou convertida em euros.
O projeto econômico de Nantes é uma das iniciativas apoiadas pelo Moedas Comunitárias em Ação (CCIA), uma cooperativa transnacional formada para desenvolver e implantar moedas locais. Além de Nantes, Amsterdam e a região de Lambeth, em Londres, também estão entre as cidades que se uniram para trocar experiências e estudar maneiras de aprimorar seus sistemas monetários.
Tanto no caso de Nantes quanto em Gaspesie os títulos locais possuem um papel complementar em relação à moeda oficial. O operador do mercado financeiro e jornalista econômico Mark Griffith defende em seu texto publicado pela Aeon que cada cidade deveria ter sua própria moeda. Ele recupera a história americana para lembrar que os 50 anos de maior crescimento da economia do país se deram num período anterior à unificação monetária.
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A criação de moedas locais também foi defendida por Jane Jacobs nos anos 1970, que considerava as cidades como lugares onde a inovação acontece e que a moeda corrente deveria acompanhar seus ciclos econômicos. Esses sistemas permitem que as comunidades criem conexões sem depender de valores determinados por fatores que estão muito longe da sua alçada. Além disso, as moedas de circulação local têm sido usadas como resposta democrática à redução do crédito disponível para as pequenas e médias empresas desde a crise financeira de 2008.