O que é? Guto Requena é arquiteto e pesquisador do Núcleo de Estudos de Habitares Interativos (Nomads) do campus de São Carlos da USP. Durante três meses, seu projeto “Eu Estou” convidava as pessoas a sentarem e tirarem uma foto, depois projetada no prédio da Fiesp, na avenida Paulista. Ao serem fotografados, os passantes escolhiam um estado de espírito entre raiva, amor, medo, alegria, surpresa ou tristeza para que a cor correspondente fosse usada como filtro fotográfico na imagem projetada. Ao final, gráficos mostrando quais eram as emoções que predominavam naquele momento no ambiente eram exibidos na fachada da edificação.
Existe amor na avenida Paulista
Durante três meses, a emoção ganhou destaque na avenida Paulista. Mais especificamente, o amor – aquele mesmo que dizem que não dá as caras em São Paulo – predominou ali perto da estação Trianon-Masp. Essa foi a emoção escolhida pela maioria das pessoas que aceitaram o convite para parar, tirar uma foto e pensar em como estavam se sentindo naquele momento para depois ter suas fotos projetadas na fachada do prédio da Fiesp. O idealizador do projeto, Guto Requena, misturou arte digital e estrutura física para integrar mobiliário urbano e interação no trabalho batizado de “Eu Estou”.
As projeções no prédio da Fiesp são um desdobramento do seu estudo desenvolvido no Nomads, onde passou nove anos pesquisando arquitetura híbrida com o uso de estruturas físicas e elementos digitais. O “Eu Estou” é parte da mostra Aquinterface, que convidou artistas a pensar formas de usar a arquitetura como suporte midiático.
Acho interessante que, ao ver o seu rosto projetado, acontece algo no campo simbólico. Você não é só mais um. As pessoas ficavam emocionadas e paravam para pensar nas emoções, saíam do automático.
Guto Requena
Guto Requena é de Sorocaba, interior de São Paulo, e se mudou para a capital há 12 anos. Atualmente, mora na região da Paulista. Seu trabalho foi uma das seis obras que integraram a mostra, que ficou até dezembro em exibição. A exposição mantinha as obras se alternando a cada meia hora na fachada do prédio desenhado por Rino Levi nos anos 1980.
Monitores ficavam responsáveis por orientar as pessoas que quisessem interagir com o mobiliário localizado do outro lado da avenida, onde as fotos eram tiradas e de onde era possível que o fotografado conferisse o resultado. A estrutura foi feita de placas de embalagens longa vida, material reciclável que possuía as características necessárias para resistir ao ar livre.
“Eu Estou” foi inspirado no trabalho do americano Phillip Shaver, sobre as seis emoções básicas dos seres humanos. Embora o amor tenha sido a emoção predominante, os níveis de raiva e medo aumentavam muito nos dias de manifestação, indicando que os acontecimentos da cidade influenciavam muito o estado de espírito no ambiente da avenida, lugar ocupado pelas pessoas para demonstrar descontentamento com algo. Além de Guto, também participaram do desenvolvimento do projeto Márcio Ambrósio, Dimitre Lima e Daniel Vianna.
Antes de ter desenvolvido a obra para a Arquinterface, Guto já havia sido colaborador no Love Project, que desenvolvia peças com base em emoções narradas que eram depois fabricados por uma impressora 3D. Guto tem planos de participar do festival Urbe com um projeto de mobiliário que registra segredos das pessoas que interagem com ele e os reproduz em áudio, distorcendo a voz de quem o compartilhou. O trabalho deve ser concluído ainda esse ano e provavelmente também será instalado nas proximidades da avenida Paulista.