O que é? Se você fosse construir uma cidade do zero, quanto espaço dedicaria aos parques? E para as vias? E espaços públicos? Um estudo da Organização das Nações Unidas estima quanto espaço as ruas devem ocupar nos centros urbanos e elabora uma receita para distribuição da área nas cidades de maneira que elas possam abrigar melhor o desenvolvimento econômico.
Um pouco de cada coisa
A disputa ferrenha por espaço é vista como uma característica intrínseca das grandes cidades. A especulação imobiliária, as ocupações irregulares e o crescimento desordenado influenciam a distribuição do espaço de forma que o planejamento urbano acaba se limitando às tentativas de organizar os conflitos de interesse mais imediatos em torno do território. Para saber se as grandes cidades conseguiram realizar a difícil tarefa de equilibrar a divisão da área do município entre os equipamentos urbanos e especialmente se reservaram espaço para a malha viária, o Observatórios Urbano Global da Organização das Nações Unidas (ONU-Habitat) desenvolveu um estudo comparando a dimensão ideal das vias com aquelas encontradas atualmente nas metrópoles.
O estudo parte do princípio de que a quantidade espaço dedicado às vias em uma cidade diz muito sobre o seu potencial de desenvolvimento. A malha viária, segundo a análise, deve ser considerada como parte do espaço público e somada às áreas de praças e parques devem ocupar entre 45 e 50% da área urbana, sendo que as ruas devem corresponder a algo em torno de 30 e 35% dessa parcela do território, com o restante sendo dedicado aos espaços abertos.
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Duas cidades brasileiras foram analisadas: São Paulo e Brasília. Ainda que Brasília tenha sido planejada, em comparação, a capital paulistana está mais próxima da proporção ideal de quilômetros quadrados dedicados às vias. Enquanto na área central de Brasília aproximadamente 17% do espaço é destinado às ruas e avenidas, elas correspondem a 20% da área central da maior cidade do Brasil. Na periferia, a parcela do território ocupado pela malha viária cai para 8% na capital federal e 10% em São Paulo.
O estudo desenvolveu um índice de conectividade da malha composto pela concentração cruzamentos e extensão da rede viária que mostra que cidades que dedicam proporções semelhantes de suas áreas para vias públicas diferem, e muito, entre si. No mesmo grupo que abriga São Paulo, com índices entre 0,5 e 0,6, também figuram Pequim, Alexandria, Casablanca, Chandigarh e Johanesburgo.
Na teoria, os altos índices obtidos em cidades como Tóquio, Hong Kong e Cape Town indicam que nesses lugares há a possibilidade de acomodar todos os tipos de usuários e que a malha viária se estende pelas mais distantes esquinas e bairros. No entanto, o estudo ressalta que nessas cidades as vias estão tão congestionadas que sobra pouco espaço para outros modais.
Questões importantes como o desenho das ruas não foram consideradas pelo índice, ou seja, ficou de fora a proporção de de espaço voltado para pedestres, ciclistas, transporte público e individual motorizado. Ainda assim, isso não impediu o estudo de usar o índice de conectividade para compor outro índice, o de prosperidade urbana, que combina desenvolvimento em infraestrutura, qualidade de vida, inclusão social, produtividade e sustentabilidade. As cidades mais bem cotadas foram Londres, Amsterdam, Helsinki e Paris.
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Ter ruas largas e bem distribuídas pelo território urbano é um pré-requisito para a implantação de vias multiuso que também sejam espaços públicos de qualidade, mas não necessariamente um indica que elas sejam transitáveis por pedestres, veículos do transporte público e ciclistas, principalmente em locais onde ter um carro é símbolo de status social e o desenho das ruas prioriza o transporte individual motorizado.