Deixe de lado todas as discussões que você já teve com amigos sobre gostar ou não do horário de verão. Os chilenos levaram isso a outro patamar. Na última semana, o ministério da energia anunciou que, a partir de 14 de maio, entrará em vigor o horário… de inverno.
O Chile tem um histórico de atritos com a hora marcada em seu relógio. Um país comprido no sentido norte-sul, com uma parte bastante próxima ao círculo polar, tem dificuldades em uniformizar a hora. Ainda que todo o território chileno caiba na latitude de um fuso horário, a alvorada e o anoitecer ocorrem em momentos muito diferentes no norte e no sul (no inverno e no verão, a diferença é de mais de duas horas). Por isso, é complicado definir um fuso horário que atenda a todas as regiões do país. O que acabou criando situações extremadas.
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Até o anúncio do governo, os chilenos estavam em horário de verão permanente desde 2015. A hora local, tradicionalmente uma a menos em relação a Brasília, se igualou ao de Brasil e Argentina. Com isso, foram criadas situações inusitadas como o fato de Recife, na ponta oriental da América do Sul, estar com o mesmo fuso de Valparaíso, na costa do Oceano Pacífico. Isso se torna particularmente estranho porque, desde uma crise energética em 1968, o Chile adota uma hora adiante do que deveria pelo mapa (veja abaixo como o Peru, imediatamente ao norte do Chile, tem duas horas a menos que Brasília).
A justificativa do governo é aproveitar ao máximo possível as horas de sol para reduzir o consumo de energia e diminuir a violência nas principais cidades do país. É a mesma justificativa utilizada em boa parte do mundo, inclusive no Brasil, e que motivou Hugo Chávez a atrasar permanentemente em meia hora – isso mesmo, um meio fuso – na Venezuela em 2007.
Quem entra cedo no trabalho ou mora em uma região periférica de uma grande cidade e depende de transporte coletivo sabe qual o efeito colateral disso. Ainda que o sol se ponha tarde – o que reduz o consumo de energia elétrica no começo da noite –, há uma quantidade muito grande de pessoas que acordam e saem para o trabalho ainda no escuro. No Chile isso é particularmente pior porque já estava uma hora adiante do normal.
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Uma pesquisa mostrou que 58% dos chilenos gostavam mais do “horário de inverno”. Outro levantamento, do PNUD (Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas), indicou que 45,5% da população defende o horário de verão permanente, 12% quer o horário de inverno permanente e 38,8% prefere um sistema misto.
Com esses dados em mãos, o governo de Michele Bachelet voltou atrás e aceitou voltar os relógios em uma hora. No entanto, o sistema é um pouco diferente do tradicional, em que o horário de verão vigora apenas nos meses mais quentes do ano. No Chile, os relógios seguirão no fuso de Brasília, por mais estranho que pareça, durante nove meses. A hora retrocede apenas no auge do inverno.