Mark Leaver é diretor de desenvolvimento do Playable City e participou da criação de projetos para deixar cidades mais divertidas em lugares como Bristol, Tóquio e Recife. Ele esteve em São Paulo para um painel que fez parte da programação do festival BIG (sigla em inglês para games brasileiros independentes) e falou sobre os próximos passos do projeto, cidades inteligentes e interação das pessoas com o espaço público.
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A ideia do Playable City é procurar soluções lúdicas para o espaço urbano e realiza projetos fora do Reino Unido, onde começou, com o apoio do do British Council (órgão do governo britânico para difusão da língua e da cultura inglesa). Além do painel, também foi organizado um workshop sobre o tema durante o evento para discutir as possibilidades de intervenções urbanas em São Paulo.
Confira abaixo a entrevista que Leaver concedeu com exclusividade ao Outra Cidade.
Como começou o Playable City?
Nós começamos em 2012, havia um número de projetos no estúdio em Bristol, onde estamos instalados, nos quais estávamos trabalhando. Eles tinham como foco intervenções em urbanas que pareciam conectados com uma ideia. Nós estávamos olhando para dados abertos, para como usamos a tecnologia para nos movermos pela cidade. Percebemos que todos esses projetos tinham um tema coerente, que era como nós engajamos a pessoa com a cidade e pensar sobre o futuro do espaço urbano por meio de um caminho mais voltado para uma abordagem cultural, divertida e inesperada da cidade. Nós decidimos chamá-lo de Playable City e viemos desenvolvendo o conceito gradualmente desde então.
Como essa ideia foi colocada em prática?
A câmara de vereadores de Bristol foi um primeiro parceiro logo de início, nós tínhamos ali um número de organizações olhando para o futuro da cidade. Internacionalmente o British Council tem apoiado muito a ideia. Em cada cidade temos um grupo de apoiadores, nós não temos uma, mas muitas pessoas que estão por trás da ideia. Em cada lugar nós buscamos fazer algo muito enraizado no espaço. Nós também construímos uma rede com parceiros de mídia, como o jornal Guardian, e parceiros na arquitetura, parceiros técnicos. Fazemos uma combinação de muitas variáveis.
O que você aprendeu fazendo esses projetos pelo mundo?
Penso que nós aprendemos que as cidades estão muito interessadas em como elas engajam pessoas e em como falar com seus habitantes. Cada cidade tem seu ambiente, único, mas muitas das coisas que impactam os ambientes são universais: mobilidade, sustentabilidade, como a cidade cresce, como as pessoas falam umas com as outras, como as cidades se veem no futuro. Então nós aprendemos que podemos mover um projeto de um lugar para o outro e pode ter uma pequena diferença, mas há um entendimento suficientemente universal de como as cidades funcionam e do conceito de Playable. Nós usamos brincar como uma ideia porque é uma característica humana, seja de onde você for. Gradualmente nós tentamos construir um banco de conhecimento. O que nós aprendemos fazendo projetos em várias cidades? Nós sabemos que as pessoas estão muito mais inclinadas a dizer a um poste de luz que ele está quebrado que dizer à câmara municipal que a lâmpada está queimada.
Quais são os próximos passos?
As próximas cidades que nós estamos buscando trabalhar são Dublin, Austin e esperamos que aqui em São Paulo também. É uma ideia que parece impregnada em muitas cidades com as quais nós estamos em contato, que estão envolvendo os criativos e técnicos da cidade em gerar novas ideias que tenham sentido para as pessoas.
O que você viu de único em São Paulo?
Até agora penso que há muito entusiasmo e que os exato espaço onde estamos está carregado de habilidades técnicas e criativas. Essa é a primeira vez que venho a São Paulo e estive aqui por dois dias, então são as primeiras impressões. Conheci bons designers; arquitetos muito interessantes; acadêmicos como Gisele [Beiguelman], que parecem muito interessados nos espaços públicos e em como a arquitetura interage com as pessoas; artistas, como Guto [Requena], que estão fazendo trabalhos incríveis com interações no espaço urbano; organizações públicas como a Adesampa e o BNDES; e muitas organizações comprometidas com o crescimento da economia criativa e com as ideias contidas na cidade. Minha impressão é muito positiva, encontrei muitas pessoas com as quais me identifiquei e senti muito entusiasmo. Quero trabalhar com essas pessoas, penso que podemos fazer projetos fantásticos.
Austin e Dublin estão na mesma etapa que São Paulo?
Em Austin nós fizemos alguns trabalhos com Hello Lamp, e foi muito bem sucedido. Então é uma espécie de segunda fase que está começando. Nós trabalhamos em um processo, primeiro começamos a falar com a cidade e as pessoas, entendemos sobre o que elas estão conversando, qual é o ambiente. Aí vamos mostrar alguns dos nossos trabalhos e fazemos um workshop para desenvolver ideias. É algo gradualmente construído. Em Tóquio, nós trabalhamos por um ano em engajar a comunidade, designers e atores digitais. Construir ideias que eram muito enraizadas em Tóquio, desenhadas por equipes japonesas. Em Dublin nós estamos em um primeiro estágio, falando com a câmara municipal, com redes da cidade. Em cada lugar nós temos que ter uma relação muito sólida com a cidade em si – saber qual a estratégia e obter as permissões –, nos conectar com redes, criativos, designers e tecnólogos e temos que ter acesso às pessoas com as quais podemos trabalhar. Nós construímos gradualmente essas parcerias em cada espaço.
Doze meses é o tempo médio que vocês levam para concluir um trabalho?
Algumas vezes menos, mas idealmente nós trabalhamos por longos períodos: seis, nove, doze meses. Isso porque não queremos trazer nossas ideias externas. Queremos trabalhar com pessoas da cidade, construir um enquadramento para que eles olhem de uma forma diferente para sua própria cidade e tenham suas próprias ideias sobre ela.
Como você mede o impacto do que faz?
Há algumas medidas como quantas pessoas usam, quanto repercute socialmente, quanta mídia conseguimos. O que quer que aconteça, há uma comunidade de interesse que está discutindo o futuro da cidade desde sempre e que continua por muito tempo depois de nossa partida – fazendo novos projetos sobre como usar cultura na cidade, como definir uma cidade. Trabalhamos com estúdios em muitos lugares e isso tem um impacto comercial para eles. E esperamos dar a partida em uma conversa sobre a cidade, isso faz as pessoas pensarem de forma diferente e penso que isso é difícil de medir – a ideia de reunir pessoas, conectá-las e fazê-las conversar.
Você tem algum comprometimento em fazer coisas que podem ser replicadas em outros lugares?
Sim é uma parte estratégica, nós estaremos lançando um material que provavelmente irá abordar o que nós vemos de único em uma cidade ou, com a nossa experiência, do que uma cidade precisa para ter sucesso em desenvolver um projeto Playable City. Idealmente, no futuro, criaremos projetos simples para que as pessoas possam fazer. Estrategicamente, estamos vendo que há muitas cidades interessadas no nosso trabalho e gostaríamos de prover algumas coisas para que elas pudessem fazer o download e começar a usar esse material. A ideia de criar essa rede de cidades é que todas elas tragam conhecimento e experiências internas para o centro e compartilhem isso entre elas. As cidades nas quais nós trabalhamos estão de alguma forma compartilhando experiências. Quanto mais global for essa rede, mais conhecimento nós teremos sobre como fazer intervenções interessantes nas cidades e podemos mover entre cidades.
Os projetos que vocês desenvolvem são propositalmente temporários ou já fizeram algo de longa duração?
Sim, elas são temporárias porque nós queremos construir protótipos sem começar a ter essa preocupação com contratos de manutenção e fazer as manobras para aquilo dure. Os projetos têm um impacto que é muito mais catalizador. Isso significa que não podemos nos mover tão rapidamente se tivermos que nos preocupar com aquilo precisar ficar lá por cinco anos e como fazer a manutenção. Hello Lamp já esteve em seis ou sete cidades e em cada uma delas permaneceu por um período entre quatro e oito semanas e isso é suficiente para desencadear uma conversa.
O que você entende por smart city?
Eu penso que é reagir ao que é percebido. A conversa sobre smart cities é frequentemente pautada por objetos conectados e não há nada errado com isso, só penso que as cidades precisam entender qual o impacto e quais os benefícios para investir nessas coisas. No momento eu penso que há uma dissociação entre os própositos dos governos municipais e o entendimento das pessoas. Acredito que, de alguma forma, nós tentamos ser um intermediário entre eles. Todas cidades possuem desafios e as cidades se tornaram mais cheias e produtivas. As cidades inteligentes são aquelas que podem mudar o comportamento e trabalhar com as pessoas para melhorar o espaço urbano para todos.