A preferência era clara: os gibraltinos queriam seguir na União Europeia. No referendo que decidiu a situação do Reino Unido no bloco, 95,9% dos votos de Gibraltar eram favoráveis à permanência do país ao lado dos vizinhos europeus. Apesar de proporcionalmente forte, a vitória era numericamente pequena – placar de 19.322 a 823 – e teve pouquíssima influência no resultado final (vitória da saída), definido basicamente pelos 24,4 milhões de eleitores da Inglaterra.
A derrota nas urnas pode colocar em xeque a situação desse território ultramarino, basicamente uma península com uma cidade de 30 mil habitantes e um morro rochoso, em relação ao Reino Unido. O governo espanhol aposta nisso, na esperança de tomar Gibraltar para si. Os gibraltinos preferem seguir separados da Espanha e cogitam conversar com a Escócia – que também votou pela permanência na UE e perdeu – para criar um mecanismo para seguir no bloco continental e ligados ao Reino Unido ao mesmo tempo.
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Mas quem tem mais motivos para estar de olho no destino gibraltino é Campo de Gibraltar, comarca espanhola composta por sete cidades em torno da península, ao sul da Andaluzia. Para essa região, a relação com o território britânico é fundamental para a saúde econômica.
Gibraltar é uma cidade rica. Com incentivos fiscais, acabou atraindo empresas de serviços bancários, seguros e casas de apostas. A economia cresce 10% ao ano e não deve sofrer tanto o eventual impacto da saída da União Europeia, pois 90% do comércio já é com a Inglaterra. No entanto, estar no bloco é importante pelo mercado de trabalho. Para dar conta desse bom momento, a economia gibraltina depende de milhares de espanhois que atravessam a fronteira todo dia para trabalhar.
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Os empregos oferecidos em Gibraltar se tornaram uma importante fonte de renda para as cidades vizinhas, sobretudo La Línea de la Concepción (onde fica a fronteira anglo-espanhola) e São Roque. Atualmente, 25% da economia de Campo de Gibraltar vem do território britânico. Com a saída do Reino Unido da UE, a fronteira se tornará mais fechada e muitos espanhóis podem perder o emprego. um problema especialmente grave quando se vê que a Andaluzia tem taxa de desemprego de 32%.
Por isso, a pequena cidade britânica pode até estar desgostosa com o resultado do referendo do Brexit, mas quem pode realmente sofrer são milhares de espanhóis.