Pesquisadoras foram enviadas para cada uma das 32 subprefeituras de São Paulo. A meta delas era voltar com cinco entrevistas com mulheres ciclistas em cada um dos três períodos do dia em cada região. Tudo para traçar um perfil das mulheres que pedalam em São Paulo, um projeto do grupo para questões de gênero da Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade). Em três regiões – Ipiranga, M’boi-mirim e Cidade Tiradentes – não foram encontradas mulheres pedalando. Mas houve material suficiente para descobrir informações interessantes sobre esse público.
A realização de um levantamento exclusivo é relevante se considerar que as mulheres ainda são minoria no total de ciclistas e pesquisas gerais sobre quem pedala acaba ofuscando questões específicas a elas. Em diversos estudos, as mulheres correspondem a 7% dos ciclistas na média nacional. No último perfil feito pela Ciclocidade, divulgado em março, as proporção subiu para 14%.
Outra diferença dessa pesquisa foi abranger todas as regiões da capital paulista. Por isso, não surpreende que o perfil das ciclistas difere bastante do último levantamento feito apenas com elas. No primeiro, 52% das entrevistadas tinham completado o ensino superior, o que faz sentido se pensarmos que 51% delas se concentravam na área central.
Com uma amostra mais distribuída territorialmente, a coisa muda bastante. Das 336 mulheres entrevistadas, entre ciclistas e não ciclistas que têm contato com alguém que usa a bicicleta como meio de transporte (conhecer alguém que pedala para fazer seus deslocamentos era o critério “de corte” para entrar na amostra), mais de 50% das que pedalam em seus trajetos cotidianos e 47% das que não andam de bicicleta como meio de transporte possuem como nível mais alto de escolaridade o ensino médio ou técnico. As que se auto-declaram negras ou pardas correspondem a 50,8% das ciclistas.
“As mulheres assumem mais papeis que os homens porque são responsabilizadas pelo trabalho doméstico e cuidado da família. A pesquisa reflete essa característica cultural”, diz Priscila Costa, que coordenou o levantamento. Entre os três principais destinos, 28% das ciclistas citaram o trabalho, sendo que o segundo motivo de deslocamento mais citado por elas foi ir ao supermercado.
Outra preocupação do grupo de trabalho é entender por que é tão pequeno o número de mulheres que usam a bicicleta como meio de transporte na comparação com os homens. Entre as não-ciclistas entrevistadas, o motivo mais citado para não pedalar (21%) para seus destinos cotidianos são os riscos de colisões, quedas e atropelamentos. Em segundo lugar fica o medo de compartilhar a via no trânsito, com 19%. “Durante a pesquisa eu conversei com uma ciclista do Jabaquara. Ali tem infraestrutura, mas ela me contou que os motoqueiros invadem as ciclofaixas, colocando quem pedala em risco”, conta. O compartilhamento da via e o medo do tráfego motorizado também é o principal desafio para as ciclistas, citado por 22% das mulheres desse grupo.