Adriana Sansão começou a pesquisar intervenções no espaço urbano para a sua tese de doutorado quando elas ainda eram muito escassas na capital fluminense, cidade onde nasceu e trabalha como professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O resultado do seu trabalho foi publicado no livro “Intervenções Temporárias, Marcas Permanentes”. Atualmente, Adriana é coordenadora do Laboratório de Intervenções Temporárias e Urbanismo Tático (LabIT), que mapeia e classifica mudanças provisórias na paisagem carioca.
As intervenções registradas no mapeamento ficam entre as atividades que são constantes demais – ou seja, que fazem mais parte do cotidiano que da transformação – e grandes eventos. “Temos um sistema de busca com uma série de categorias. Cada intervenção atende a uma serie de critérios para facilitar o cruzamento de dados”, conta Adriana. As ações são divididas em três grupos: apropriações espontâneas, arte pública e festas locais que congregam pessoas e têm data fixa.
“Para que uma intervenção entre no levantamento, é preciso que tenha uma intenção de transformar o espaço. Se forem ações com fundo comercial não entram”. Além de mapear, o LabIT também faz intervenções, como a ocupação de espaços para estacionamento na rua realizada todo ano no Park(ing) Day. No entanto, a forma mais comum de ocupação de vagas para carros, que é a instalação de parklets, ainda não foi categorizada. Apesar de serem temporários, os parklets são muito mais permanentes que o resto e ainda não foi definido se eles ganharão uma classificação específica.
O termo “intervenções temporárias”, é usado pelos pesquisadores do LabIT porque inclui ações que não cabem muito bem na classificação de urbanismo tático, termo atribuído ao planejador urbano Mike Lydon, de Nova York. Atualmente há 133 pontos no mapa, que mostra que a maioria das transformações temporárias está concentrada na região central.
Adriana conta que o grupo tem interesse em investigar políticas urbanas voltadas para intervenções e começar a registrar as hortas urbanas que estão sendo implantadas em espaços públicos do Rio de Janeiro. “Uma coisa mínima que acontece na esquina pode não render nenhuma transformação, além da memória. Não é algo que conta apenas com impacto material, mas também imaterial. Se a intervenção tem a cara do lugar, está em conformidade com o desejo da comunidade, quer dizer que é feita para beneficiar aquelas pessoas que vivem ali”.