O jogo chegava ao final e a tensão crescia. O duelo valia uma vaga na semifinal do campeonato para o vencedor, e as férias antecipadas para o perdedor. Técnicos vão fazendo substituições para ter as melhores condições para a vitória e a torcida local já temia pelo pior quando via a reação da equipe adversária. De repente, os torcedores se unem em um grito, que pôde ser ouvido até pelos que acompanhavam a partida pela TV: “O metrô é uma droga! O metrô é uma droga!”.
Parece um jeito meio estranho de se manifestar durante um evento esportivo, mas foi o que ocorreu nesta quinta durante o jogo entre Washington Nationals e Los Angeles Dodgers na liga de beisebol dos Estados Unidos. Na reta final do encontro, parte dos 43.936 torcedores abandonaram o que acontecia em campo por alguns instantes para desabafar contra o sistema de transporte público da capital norte-americana.
Boos and chants of “metro sucks!” when the @Nationals announce the last @wmata train pic.twitter.com/gKNR1p51sC
— Madeline Marshall (@Maddie_Marshall) 14 de outubro de 2016
A força do protesto foi grande, mas já se esperava alguma manifestação. O estopim foi a negativa da administração do metrô de estender o horário de funcionamento da linha que atende ao estádio dos Nationals. Quem quisesse voltar para casa, teria de chegar à estação mais próxima às 11h40, sendo que a perspectiva era de a partida terminar bem depois desse horário (o jogo demorou 4h32, um recorde, e terminou apenas à 0h32 de sexta).
Esse tipo de conflito é comum no Brasil. Na capital paulista, o metrô concordou em estender o horário de funcionamento para permitir o retorno de torcedores após jogos de futebol. Ainda assim, é comum ver pessoas deixando o estádio nos minutos finais para voltar para casa. Não houve essa possibilidade em Washington e, como a partida era decisiva, ninguém abandonou seu assento. Por isso, a imprensa local chegou até a brincar com isso, fazendo reportagens sobre quais as opções para sair do estádio dos Nationals, indo de pagar US$ 200 por uma vaga de estacionamento colocada até alugar um quarto no Airbnb (afinal, saía mais barato passar a noite fora de casa que estacionar o carro).
Seria um caso pontual, mas o metrô de Washington ganhou fama de pior dos Estados Unidos. E aí se justifica a manifestação em massa contra o sistema.
A pontualidade é a menor das grandes cidades americanas. Além disso, em março, foi descoberta uma série de problemas elétricos que colocavam em risco a segurança dos usuários. Os danos eram tão grandes que não foi possível fazer a manutenção convencional, de madrugada. Todas as linhas tiveram de ser fechadas por um dia inteiro, e ainda há quem defenda que essa medida drástica precisará ser repetida em breve. Um ano antes, um usuário morreu após um trem ficar parado por 40 minutos no túnel, com fumaça dentro dos vagões. Em 2009, um acidente entre duas composições deixou nove mortos.
Não à toa, o número de usuários tem caído no metrô, por mais que a prefeitura de Washington anuncie de políticas de incentivo ao transporte público. Aproveitar um jogo com quase 45 mil torcedores seria uma boa maneira de trazer novas pessoas aos trens. Mas acabou virando mais um motivo para deixar o público ressentido por ficar na mão e precisar usar o táxi e o Uber. Até porque todos estavam de cabeça quente com a derrota de virada – e a eliminação – do time da cidade.