Parece que não há nada de errado em adaptar prédios antigos e transformá-los em restaurantes. Até que muitos deles se aglomeram em único bairro, tornando gritantes as marcas da gentrificação. A situação do bairro Saint-Henri era tão grave que levou a prefeitura de Montreal a limitar a abertura de novos estabelecimentos. A tensão se traduz na recém-promulgada lei que considera ilegal a abertura de restaurantes a menos de 25 metros de distância dos já existentes.
Em maio, alguns estabelecimentos de Saint-Henri tiveram suas janelas quebradas e as paredes pichadas. Um grupo chegou a roubar comida da loja Parreira Traiteur anunciando que iriam distribuí-la aos pobres.
A lei foi aprovada por unanimidade pelos representantes da região sudoeste da cidade. Ainda há imóveis comerciais vazios na área, mas a decisão é de que chega de restaurantes por ali. A área, que possui uma das maiores concentrações de habitações sociais de Montreal, foi tomada por uma superpopulação de chefs com cardápios inacessíveis a muitos dos moradores.
Apesar do resultado da votação, a medida é polêmica. Enquanto os defensores argumentam que os restaurantes não estão sendo banidos – pois um em cada seis estabelecimentos ainda poderão servir comida – há quem duvide da eficácia da lei em frear o processo de encarecimento da vida no bairro. A moradia acessível é um dos principais atrativos de Montreal, que possui valores de compra e locação aproximadamente 50% mais baratos que Toronto e bem distantes dos preços exorbitantes de Vancouver.
O partido local Projet Montréal, que defende a restrição, afirma que ela é parte de um projeto maior que inclui a liberação de fundos para moradia social. O objetivo é segurar os preços em alta para evitar o superaquecimento do setor imobiliário e preservar as unidades acessíveis, mantendo as características locais do mercado imobiliário.