A passagem de metrô e ônibus não aumentou em São Paulo, mas, ao mesmo tempo, aumentou. O governo estadual e o futuro governo municipal anunciaram que uma viagem de metrô, ônibus ou trem da CPTM continuará custando R$ 3,80. No entanto, também foram divulgados novos preços, com aumento acima da inflação, para outras modalidades de passagens, o Bilhete Único temporário (diário e mensal) e a integração ônibus + trilhos.
A conclusão imediata é que o aumento acaba atingindo os usuários mais frequentes do sistema de transporte público, pois são os que mais teriam motivos para adotar bilhetes integrados ou que valessem por infinitas viagens dentro de um período de tempo. A assessoria do futuro prefeito, João Doria Jr, minimizou o efeito desse aumento, afirmando em nota que “mais de 75% dos usuários de ônibus serão beneficiados pelo congelamento e outros 11% têm seus custos arcados pelo vale transporte”. A nota ainda menciona o efeito no metrô: “Os bilhetes temporais são apenas 4% das viagens de metrô e CPTM. O bilhete mensal é um benefício principalmente aos empregadores.”
É verdade que muitos dos bilhetes únicos mensais são cedidos aos trabalhadores como vale transporte por seus empregadores, e um aumento não impactaria diretamente o bolso desses usuários. Mas não é tão simples assim. O comunicado ignora o fato que 63% dos donos de bilhetes temporários são estudantes, que precisam pagar a passagem (ainda que com 40 ou 50% de desconto).
Para eles, ou para qualquer um que compre o bilhete temporário, ficou mais difícil de a conta fechar. Com o preço atual, é preciso realizar 38 viagens para valer a pena esse tipo de modalidade. Após o aumento, esse número subirá para 51. Se ele usa integração metrô + ônibus, subiu de 40 para 45. A diferença é significativa, pois um mês tem entre 21 e 22 dias úteis. Uma pessoa que faz apenas viagens de ida e volta para o trabalho ou o estudo acaba pegando o transporte público 42 ou 44 vezes ao mês (ou até menos, pois apenas dois meses de 2017, julho e agosto, não terão feriados em dia útil em São Paulo). Antes, o bilhete mensal representava uma economia evidente. Agora, ele terá de incluir na conta quantas vezes ao mês ele usa ônibus, trem ou metrô fora desses momentos para saber se vale a pena.
Para os usuários de metrô, o novo cenário é mais delicado ainda. Nele, a influência do bilhete integração é muito maior. Segundo estudos da própria Companhia do Metrô, 82% dos passageiros usam o sistema conjugado com outro meio de transporte, sendo 49% com ônibus municipal ou metropolitano (os demais 33% fazem integrações não afetadas pelo aumento de passagem, como trem da CPTM, carro, carona ou ônibus fretado). Ou seja, praticamente metade dos usuários de metrô terão de pagar mais.
O uso de integração é maior no metrô justamente porque, em bairros periféricos, o sistema se estruturou de forma a várias linhas de ônibus conduzirem a terminais de metrô para moradores dessas regiões distantes chegarem mais rápido ao centro. Esses usuários serão atingidos pelo aumento, salvo os que tiverem seu bilhete único bancado como vale transporte. Provavelmente fará diferença no orçamento de muitos, pois 71% dos passageiros do sistema têm renda familiar de até 8 salários mínimos, 65% completaram no máximo o ensino médio (isso conta estudantes universitários) e 85,9% são considerados classes sociais B1, B2, C1, C2 ou D.