Aos 78 anos, Ciro de Oliveira Gonçalves continua levantando todos os dias antes das três horas da manhã para labutar até as duas da tarde. Para chegar ao local de trabalho, percorre 27 quilômetros, indo da Parada Inglesa, onde reside atualmente, até o bairro nobre da zona oeste de São Paulo onde atende clientes famosos como Celso Lafer, Eduardo Suplicy, Paulo Maluf e Ricardo Boechat. Todos os dias ele levanta os portões da Banca Jardins, ou a “Banca do Ciro”, como se referem os frequentadores mais assíduos, onde está desde os anos 1980.
Ciro, o jornaleiro mais antigo em atividade em São Paulo, foi educado lendo jornais e revistas. Tinha 11 anos quando deixou Botucatu, no interior do Estado, após a morte precoce da mãe, para morar na capital com a tia. Chegou em 1947, época em que a cidade somava cerca de 2 milhões de habitantes e a maior parte das bancas se concentrava nos arredores da Estação Júlio Prestes, na região central. De olho no movimento de passageiros da Estrada de Ferro Sorocabana, Ciro arrumou um jeito de vender jornais durante as viagens de trem. Nasceu ali, entre um vagão e outro, a sua vocação.