A Associação Nacional de Transportes Públicos fez um estudo para medir a qualidade da mobilidade urbana em cinco vias representativas em relação aos diferentes modais presentes no tráfego paulistano. A análise do fluxo foi feita nas avenidas Sumaré e Santo Amaro, nas ruas Teodoro Sampaio e da Consolação, além da estrada do M’Boi Mirim. Os resultados devem ser considerados provisórios, uma vez que o objetivo da pesquisa é testar uma nova proposta de metodologia.
Entre as vias analisadas, a que apresenta menores limites de velocidade é a Sumaré, onde a máxima permitida varia entre 40 e 50 km/h. Na Santo Amaro, onde a velocidade tolerada chega a 60 km/h, se encontra o maior fluxo de coletivos articulados e biarticulados. A estrada do M’Boi Mirim é, com sobras, a via que recebe maior número de motos e de caminhões. Já o fluxo de táxis é mais intenso na avenida da Consolação, enquanto a Sumaré é o local que recebe mais ciclistas e também é a única das cinco vias que possui ciclovia de canteiro central.
A M’Boi Mirim, que teve a licitação para a implantação do corredor de ônibus suspensa, é a via analisada que mais recebe usuários de transporte público (a pesquisa não considera os usuários de metrô nas avenidas que possuem estações, como a Sumaré e a Consolação). A via é também a que recebe maior número de vans, o que pode ser explicado pelo resultado de outra pesquisa, que mostra que os moradores do Jardim Ângela optam pelo transporte escolar quando as crianças precisam atravessar a estrada para chegar até a escola. Isso porque os pais consideram o local inseguro, tanto que um estudo do Cidade Ativa propôs uma série de medidas a serem tomadas para melhorar as condições de travessia. A qualidade das faixas utilizadas pelos ônibus ali foram as piores encontradas pelo estudo e as calçadas também são um problema – em alguns trechos chegam a ter a largura de meio metro.
Entre as avenidas analisadas, a Consolação tem a maior largura de calçada e é a que recebe maior contingente de veículos motorizados de transporte individual, que respondem por 46,4% de suas viagens. No outro extremo, a Teodoro Sampaio é a via que mais recebe fluxo não motorizado entre as 6h30 e 9h30. A rua possui alta concentração de estabelecimentos comerciais e obteve a melhor avaliação em qualidade do piso das calçadas.
No entanto, os pedestres que andam pela rua comercial de Pinheiros precisam desviar, em média, de 21 obstáculos fixos – que vão desde bancas de jornal e postes de luz até radares e lixeiras de prédio – por quadra. A Teodoro Sampaio também não possui nenhum ponto de ônibus coberto, enquanto, na M’Boi Mirim, 50% das paradas no sentido centro são cobertas, sendo que na direção oposta a taxa é de 75%. Nas outras vias, 100% dos pontos são cobertos.
A estrada do M’Boi Mirim empata com a avenida da Consolação em pior índice velocidade livre das motocicletas, que calcula a valor abaixo da qual 85% dos veículos da via circulam para representar o risco potencial de atropelamento. Na prática, isso significa que 15% das motos passam de 67 km/h, desrespeitando os limites de velocidade das duas vias. As motos recebem apenas 4% do total de multas aplicadas em São Paulo, mesmo sendo o modal que mais se envolve em acidentes. Isso acontece porque não são todos os radares que detectam infrações de motociclistas e mesmo aqueles que são capazes de registrar motos em alta velocidade podem ser burlados pelos que andam entre os carros.
Veículos que desrespeitam os limites de velocidade na pista também representam um perigo para os ciclistas, que foram desrespeitados por 87% dos condutores de veículos motorizados ultrapassando no sentido bairro da avenida Santo Amaro. Na direção oposta da mesma via, foram 66,7% das ultrapassagens não respeitaram a regra de manter 1,5 metros de distância de segurança da bicicleta durante a manobra. Foram registradas apenas dez pessoas pedalando pela Teodoro Sampaio entre 7h30 e 8h30.
Entre as vias analisadas, a Santo Amaro é a que dedica maior espaço às faixas de rolamento, com uma média de 24,6 metros de pista ao longo de sua extensão. A via também é, entre as que possuem canteiro central, a que reserva menos espaço para separar os fluxos de veículos seguindo em direções opostas. No entanto, a ANTP ressalta que em nenhum dos casos foram verificadas condições suficientemente adversas para causar congestionamento de pedestres.
Trata-se de um estudo bastante localizado, mas considera cinco vias importantes e com características bem diferentes, de uma rua de comércio em um bairro central a um corredor que liga bairros de periferia a um terminal. De qualquer modo, esse tipo de pesquisa é fundamental para se entender as características e necessidades de cada rua ou avenida, o ponto de partida para qualquer projeto para melhoria de sua qualidade ou capacidade de circulação.