Uma política impopular para incentivar a reciclagem de resíduos foi adotada por cerca de 7 mil comunidades norte-americanas. A ideia é que os residentes dessas localidades paguem pela coleta de lixo da mesma forma que eles pagam pela conta de água ou de luz: quanto mais você usa, mais caro fica. O preço a pagar é proporcional ao volume de material não-reciclável a ser descartado, medido geralmente por “lata” ou “saco”.
A medida pode soar como mais uma taxação sobre a população, mas o objetivo é outro. Cobrar pela coleta de lixo não reciclável motivou as pessoas a serem mais cuidadosas com seus resíduos, aumentando a eficiência da destinação deles. A cidade de Waterville reduziu em 54% o volume de lixo coletado desde que adotou a medida, em 2014. Worcester reciclava apenas 2% dos resíduos produzidos em 1993 – quando começou a cobrar uma taxa para coleta de volume não-reciclável de seus moradores – e hoje a proporção é de 43%.
Em Waterville, por exemplo, o morador deve comprar os sacos especiais da prefeitura para que seu lixo seja recolhido. Eles são vendidos nos tamanhos pequeno ou grande – o menor é vendido em pacotes de 8 unidades e o maior em conjuntos de 5, sendo que ambos podem ser adquiridos por US$ 10.
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Além de incentivar a reciclagem, a política de “pague o quanto jogar fora” também permite reduzir a quantidade de lixo que vai para os aterros e, consequentemente, o impacto ambiental. Por outro lado, o aumento na quantidade de resíduo sendo corretamente destinada para a reciclagem significa maior volume de material disponível para voltar ao ciclo produtivo, economizando energia. Enquanto isso os aterros ficam menos sobrecarregados, o que pode resultar em uma economia de até 50% nos gastos públicos com o sistema de coleta, como aconteceu em Sanford.
No Brasil, cidades como Curitiba e Porto Alegre fizeram o caminho inverso e aumentaram o volume de recicláveis coletados recompensando os moradores que dão a destinação correta a esse resíduo. A cobrança pelo lixo produzido reforça o combate ao desperdício e a poluição como prioridade dos governos locais, mas também há quem defenda que não passa de mais uma forma de imposto.
Esse argumento foi usado para refutar o “pague o quanto jogar fora” na Inglaterra, apesar de uma pesquisa ter apurado que dois terços da população são a favor da adoção do sistema. Outra crítica feita à medida é que ela precisa ser corretamente implantada, para não punir os habitantes por relapsos ocasionais, como colocar por engano um pote de manteiga junto com o lixo orgânico.
Ainda assim, a política de “pague o quanto jogar fora” mostra que não é impossível reduzir as taxas de lixo não reciclável e aumentar os índices de reciclagem. Reduzir significativamente a quantidade de material que vai para os aterros significa menos recursos sendo drenados pelo tratamento e gerenciamento de resíduos e deve ser visto como a meta mais urgente quando o assunto é a infraestrutura de coleta e destinação.