O que é? É um final de ano meio chocho. Em clima de crise, muitas cidades brasileiras não fizeram tantos investimentos para se decorar com motivos natalinos. Uma situação particularmente marcante em São Paulo, onde o tradicional palco da Avenida Paulista não foi montado por falta de patrocínio. Para muitos, é um tipo de investimento a fundo perdido. Mas perde-se a oportunidade de reforçar a capital paulista como um centro natalino no Brasil.
O turismo natalino
Congestionamentos e mais congestionamentos. O paulistano está acostumado a lidar com o tráfego lento, mas em dezembro a situação é particularmente mais crítica. Só tem uma coisa que pode piorar a confusão nas ruas – e irritar ainda mais os motoristas: a inauguração da decoração de Natal no Parque do Ibirapuera e na Avenida Paulista. Curiosos começam a transitar em ritmo lento para ver as luzes, e os demais reclamam da dose extra de lentidão.
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Por isso, houve até um alívio de parte da população ao ver que a maior cidade brasileira entrou menos no clima natalino em 2015. Não houve o palco na Paulista e o comércio foi mais discreto nas decorações. Mas ver a decoração de Natal apenas como um elemento que piora o trânsito é olhar para uma parte pequena do cenário.
Em um ambiente cada vez mais agressivo é cético, é difícil imaginar uma grande cidade brasileira imersa no conceito de “espírito natalino”. É muito mais comum encontrar pessoas irritadas com a fila nas lojas e nos supermercados para comprar presentes ou ingredientes para a ceia do que corais infantis espalhando “Bate o Sino” pelas ruas. Mas o Natal ainda é uma data importante e simbólica para muita gente, pela origem religiosa ou apenas por afinidade com todas as tradições que giram em torno desse feriado.
Há muitas pessoas que aproveitam essa época do ano para reforçar o sentimento natalino passeando ou viajando. As grandes cidades brasileiras – e São Paulo em particular – não têm capitalizado com isso. Tratam a decoração de Natal apenas como algo a se fazer para marcar o ano, mas não percebem a oportunidade que aquilo representa.
Um ponto que atrapalha é o clima, claro. No imaginário de qualquer pessoa no mundo ocidental, o Natal se relaciona com frio, neve, um velhinho barbudo com roupa para enfrentar o inverno polar e talvez a família reunida em uma sala aquecida por uma lareira. É a imagem que vem do hemisfério norte e a absorvemos no Brasil, por maior que seja o sofrimento de qualquer pessoa que passa horas de calor por ter arranjado um bico de fim de ano como Papai Noel.
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Por isso, muitos brasileiros que gostam de Natal e têm maior poder aquisitivo aproveitam a segunda quinzena de dezembro para viajar a Nova York, Londres ou Orlando/Disney. Se for um profissional no turismo natalino, pode desbravar os mercados de Natal das Alemanha ou de Estrasburgo (França), considerado o melhor da Europa. Claro que o destino vale por si só, mas o clima natalino e a possibilidade de compras contribuem. Não à toa, há muita decoração e eventos culturais e até esportivos, além de investimento do comércio em receber esses consumidores que vêm de fora.
Nenhuma cidade brasileira concorre diretamente com essas por motivos óbvios, mas elas podem atrair o próprio brasileiro que não tem condição de atravessar o mundo. Isso já foi descoberto por cidades serranas como Gramado (RS), Campos do Jordão (SP) e Monte Verde (MG), sobretudo pelo apelo da temperatura mais amena que a média do verão brasileiro. No entanto, as grandes cidades podem aproveitar isso. E São Paulo surgiria como uma das principais candidatas.
A capital paulista já ganhou destaque na última década pelas decorações natalinas, inclusive em edifícios residenciais. Já é comum moradores da periferia ou de outras cidades próximas a São Paulo irem até o Parque do Ibirapuera, à Avenida Paulista ou aos shoppings para verem as luzes. E isso nem sempre tem a ver com as pessoas que ficam passando de carro e tornando o trânsito mais lento.
A isso se soma o fato de São Paulo não ser um destino típico de verão, algo mais comum para o Réveillon, e ter um comércio muito forte. Mesmo que a pessoa queira passar o dia 24 e 25 de dezembro com a família, ela teria motivos para passar pela capital paulista em algum momento em dezembro para curtir esse clima e comprar presentes que talvez ela não encontre em sua cidade (ou encontre a preços mais altos).
De acordo com uma pesquisa da SP Turis, órgão que gere as políticas de turismo na cidade, 11% dos visitantes das atrações natalinas são de outras cidades e 13,3% dos paulistanos que estavam em alguma dessas atrações estavam hospedando parentes de outras cidades. São números interessantes, mas que poderiam ser ainda maiores.
A prefeitura divulgou a programação de Natal da cidade com várias atividades, mas falta a cidade se colocar mais abertamente como um dos grandes destinos natalinos do Brasil. Há condições para isso, desde que todos (sobretudo a população) veja o Natal como um dos grandes eventos do calendário da cidade e pare de reclamar um pouco do trânsito.