A notícia veio com um tom de preocupação, mas não de surpresa. Apenas 100 mil Riocards – o bilhete único para uso durante os Jogos Olímpicos – foram vendidos até esta terça (2), um quinto do estimado pela prefeitura do Rio de Janeiro. A procura certamente crescerá com o início das competições, mas deixa a dúvida se a meta de 1,5 milhão será atingida. Uma possibilidade que dava para imaginar pelos pacotes disponíveis.

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Nós já criticamos o modelo adotado pelas autoridades cariocas, que colocaram preços altos para o bilhete (com duração de um, três ou sete dias), entre R$ 25 e 160, e acabam incentivando as pessoas a buscarem táxis, Uber ou carro particular. Os números de venda para a semana pré-Jogos reforçam uma baixa aceitação inicial e, no mínimo, o usuário está fazendo muita conta para ver se vale a pena pagar o valor cobrado.

Isso é um problema em potencial, imaginando que o Riocard foi criado justamente para evitar procura em cima da hora. Veja o que o secretário executivo da prefeitura, Rafael Picciani, disse ao UOL:

“Muitas pessoas estão aguardando para comprar o bilhete só quando estiverem indo para as arenas, mas o produto foi criado justamente para ser comprado antes. Recomendamos que as pessoas comprem o Riocard para terem mais conforto no deslocamento.”

O problema é que a compra antecipada depende do convencimento rápido dos usuários a respeito dos benefícios do sistema, sobretudo para os cariocas, que já conhecem bem as dificuldades de deslocamento na capital fluminense. Mas os preços adotados são particularmente ruins para quem já mora no Rio, pois esse público não tem motivos para ficar o dia todo se deslocando pela cidade para conhecer seus pontos turísticos. Ele só precisa de transporte para ir ao evento para o qual ele tem ingresso e voltar para casa depois.

Transcarioca parando no ponto do aeroporto do Galeão (Divulgação/NOP-Bus/Inbus Transport)

Transcarioca parando no ponto do aeroporto do Galeão (Divulgação/NOP-Bus/Inbus Transport)

Os preços são interessantes para o turista que vai para três ou quatro pontos diferentes do Rio em um só dia. Como o Riocard permite uso ilimitado entre todo o transporte público da cidade (e ainda é o único meio de utilizar a Linha 4 do metrô e duas linhas novas de BRT com paradas muito próximas às arenas), é ideal para um visitante que acorde em Copacabana, vá ao Museu do Amanhã no centro de manhã, veja uma competição em Deodoro no meio da tarde, acompanhe um jogo na Barra da Tijuca/Jacarepaguá à noite e volte ao hotel em Copacabana no fim da jornada.

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Nem todos farão isso, e não apenas entre os cariocas. O próprio sistema de venda de ingressos dos Jogos incentiva o torcedor a procurar competições geograficamente próximas para o mesmo dia. Uma medida facilitada pelo fato de a maior parte das modalidades de grande apelo de público terem sede no Parque Olímpico da Barra. Só vôlei, futebol e atletismo (região do Maracanã/Engenhão), vôlei de praia (Copacabana) e uma parte do basquete (Deodoro) estarão em outras áreas do Rio.

Isso poderia ser contornado com uma medida simples: o bilhete unitário. Se houvesse essa modalidade de compra, em que o usuário carregaria o Riocard com alguns reais e o valor da passagem é debitado a cada uso, ele caberia sob medida a cariocas e turistas que pretendem usar o transporte apenas duas ou três vezes em um dia.

E pensar que o projeto dos Jogos do Rio previa transporte gratuito.

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