Processos de gentrificação nem sempre são fáceis de se de medir e de prever. Muitas vezes, só se percebe quando o fenômeno já está em andamento e se torna difícil realizar políticas para atenuar seus efeitos. Mas um estudo de pesquisadores da Cambridge University em bairros londrinos defende a teoria que é possível se identificar ainda em seus momentos iniciais quando uma região começa a se valorizar. Basta olhar tuítes e check ins no Foursquare.
A conexão entre os dados da rede social e gentrificação foi verificada combinando dados que indicavam a presença de um usuário de renda maior que a média local com aumento de preços de moradia e queda nas ocorrências criminais nos lugares pesquisados. Por meio da análise dos dados das pessoas que compartilham informações diretamente dos bairros, a pesquisa identificou locais como Greenwich, Hamlets, Lambeth e Hammersmith como propensos a serem gentrificados pela alta diversidade de visitantes em áreas muito carentes.
Ainda que o procedimento tenha sido pouco testado até o momento, as publicações nas duas redes ajudaram a prever com precisão a gentrificação que ocorreu em Hackney nos últimos anos. O antigo bairro operário era a sexta região mais pobre do Reino Unido. Cinco anos depois, ele figurava no 50º lugar nesse ranking, sendo que a porção da população de profissionais qualificados subiu de 49% para 64% entre 2004 e 2014. Apesar de parecer uma boa notícia, o aumento da renda média entre os moradores também puxa para cima o preço dos aluguéis, expulsando residentes de longa data.
LEIA TAMBÉM: Como o mercado imobiliário vira mecanismo de exclusão habitacional
A equipe de pesquisadores coletou 549.797 check-ins em mais de 42 mil localidades em posts de 37.722 usuários do Twitter e Foursquare. Os fatores chave considerados pelo estudo foram: a probabilidade de uma pessoa visitar um local sozinha ou com amigos, a probabilidade de alguém ir sozinho até o lugar, a diversidade de usuários que compartilham a localização e a homogeneidade de uma área e seus visitantes.
As redes sociais permitem entender onde as pessoas com mais dinheiro estão indo passar seu tempo, o que serve bem ao propósito de identificar tendência a gentrificação. A pesquisa escolheu as duas redes especificamente porque acredita que elas concentram indivíduos que pertencem a essa parcela da sociedade entre seus usuários.
Se identificada com antecedência, a tendência a gentrificação pode oferecer a oportunidade de mitigar seus efeitos com políticas de moradia popular, por exemplo. Identificar a relação entre diversidade de visitantes e carência como a combinação que indica o início de uma mudança drástica no perfil do bairro foi um primeiro avanço alcançado pelos pesquisadores ingleses para desvendar um processo complexo que envolve muitas características particulares que dependem de onde ele é desencadeado.