Uma pesquisa foi atrás de explicações para a ausência de colisões fatais envolvendo usuários de bike sharing nos Estados Unidos. É isso mesmo: apesar da proliferação do compartilhamento de bicicletas pelo país, o número de 21 mortes de ciclistas por 100 milhões de viagens que representa a taxa de fatalidades no país não inclui nenhuma ocorrência envolvendo pessoas com modelos emprestados desses sistemas. Além disso, ciclistas que usam o equipamento tendem a se envolver em menos colisões que os usuários de veículos privados.
O relatório do Instituto Mineta de Transporte elaborou um relatório que avalia a segurança de sistemas de Washington, São Francisco e Minneapolis. As três cidades possuem taxas menores de colisões com ciclistas feridos entre aqueles que utilizam bicicletas compartilhadas, se comparados com os que pedalam com equipamentos privados. Na capital, por exemplo, o índice de colisões envolvendo pessoas em bike sharing é 35% menor. Esses números intrigaram os pesquisadores, levando-os a conduzir uma investigação mais profunda, que incluiu entrevistas com usuários e especialistas em transporte.
Os deslocamentos de bicicleta correspondem a 0,9% do total de viagens realizadas no país, mas os ciclistas representam 2% das mortes no trânsito. A pesquisa faz ressalvas em relação os números de acidentes fatais destacando que as estações de bike sharing estão desproporcionalmente concentradas em áreas densas onde o tráfego é mais lento. Consequentemente, pessoas de baixa renda que moram em regiões mais afastadas tem participação pouco representativa entre os usuários de bicicletas compartilhadas, ainda que componham a maioria da massa de ciclistas americanos.
O estudo também levantou números que contradizem a sugestão feita por alguns especialistas de que mais ciclistas pedalando significa mais segurança para andar de bicicleta. Os acidentes nas três cidades possuem relação direta com o número de pessoas usando o modal. Isso não quer necessariamente dizer que o aumento do número não contribui para a redução dos riscos, mas pode indicar que o uso não aumentou o suficiente a ponto de provocar esse impacto.
Ainda assim, os pesquisadores admitem que o design das bicicletas compartilhadas pode ter um papel importante nos números. Elas são mais pesadas e têm pneus mais largos, o que diminui o impacto dos buracos, principal causa de acidentes que envolvem apenas o ciclista. São equipadas com freios a tambor que funcionam bem mesmo quando chove e as opções de marcha são menores que nas bicicletas normais. O peso do equipamento dificulta o ganho de velocidade e suas cores as tornam mais visíveis no tráfego.
O fato dos sistemas de bike sharing atraírem ciclistas inexperientes não necessariamente aumenta os riscos de acidentes. Isso está longe de ser unanimidade entre os especialistas, mas a pesquisa relata que esses usuários tendem a evitar correr riscos, pedalar com mais cautela e de forma defensiva.
O uso do capacete é algo bastante raro entre os usuários de bike sharing e tema de divergências entre ciclistas em geral. Isso não parece fazer esses ciclistas mais sujeitos a colisões, mas o estudo ressalta que ferimentos graves resultantes de acidentes não fatais com bicicletas compartilhadas poderiam ter sido amenizados pelo uso de capacete. Novamente, ainda não foi comprovado se o capacete realmente aumenta a segurança nesses casos.
Vale lembrar que mortes de usuários de bike sharing aconteceram em outros países, como Canadá (um caso) e México (dois casos), que ainda assim representam uma porção mínima do número total de acidentes com ciclistas. Por outro lado, relações entre o aumento de adeptos dos sistemas de compartilhamento de bicicletas nos Estados Unidos (que já foram feitas mesmo aqui no Brasil) e o número de acidentes fatais podem ser descartadas com base nos dados do estudo.